Supervereadores substituirão deputados federais de Rondônia

Supervereadores substituirão deputados federais de Rondônia

Porto Velho, RO – Na última terça-feira (11) atraiu minha atenção a seguinte notícia publicada pelo jornal eletrônico Rondoniaovivo: Vereador Edésio Fernandes consegue mais de 4 mi em emendas para Porto Velho.

Claro, com este título a matéria não poderia ter sido produzida pelo veículo de comunicação que a publicou – trata-se, portanto, de “miúda” valorizada patrocinada pela assessoria de imprensa do nobre edil.

Confirmei a intenção marqueteira acessando o site oficial do nosso representante a fim de não cometer injustiças.

Diante daquela publicação me senti obrigado a refletir, pois, inconscientemente, algo me alertava que, embora Edésio seja pastor evangélico ligado à Igreja Universal e o tamanho de sua influência deva ser tão grande quanto à de seus colegas de pastoreio, seria exagero demais imaginar que seu prestígio teria o condão de chegar às raias ministeriais do governo federal. Melhor ainda: abrindo alas financeiras em tempo recorde.

Edésio, do mesmo PRB do deputado federal Lindomar Garçon, recebeu da Câmara de Vereadores R$ 2.380,32 divididos em quatro diárias de R$ 595,08 para viajar à Brasília.

O vereador obteve pouco mais de dois salários mínimos e meio em diárias para participação em audiências no Ministério da Integração e na Casa Civil, do dia 04 a 07 de julho.  Eis a justificativa oficial para o custeio da incursão.

Ao ver as fotos no site oficial do vereador, senti empatia e nostalgia. O político fez o que eu costumo fazer ao visitar Brasília: tirou foto na frente do Congresso; no Plenário da Câmara (isso eu não fiz, estava sem paletó) e também defronte ao Supremo Tribunal Federal (STF) na Praça dos Três Poderes. Um roteiro tipicamente turístico.


Também estive aí, vereador. Passou pela Torre de TV de Brasília? Que vista... / Foto.: Reprodução

Coincidentemente, quando sou obrigado a ir, vou às minhas expensas; o vereador, pelo visto, às minhas e às suas. Ah, ainda tem foto com o prefeito Dr. Hildon Chaves (PSDB) entregando a emenda milionária e as diretrizes sobre aplicação. Como pano de fundo, o belo sorriso do deputado Garçon, só de paisagem – nada que destoe do roteiro original nos papéis que tem desempenhado ultimamente. Alguma foto ou menção às audiências no Ministério da Integração ou na Casa Civil?

Não.

Mas há uma imagem de corredor com o ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil Maurício Quintella Lessa (PR/AL), encontro, pelo visto, não formal, aparentemente por acaso. Quintella e seu ministério sequer são citados pela assessoria de Edésio e muito menos no empenho que justificou a liberação das diárias.


Com Maurício Quintella ao meio: pelo menos um contato ministerial / Foto.: Divulgação

Inclusive é preciso mencionar que nas agendas oficiais dos ministros Helder Zahluth Barbalho e Eliseu Padilha, Integração e Casa Civil, respectivamente, entre os dias 04 e 07 – período de estadia de Edésio em Brasília – não há citação sobre audiência com qualquer representante de Rondônia ou mesmo lideranças do PRB que pudessem denotar a presença do vereador.

Não quer dizer que não tenha ocorrido, é claro. Mas significa, no mínimo, que não fora significativo o suficiente para justificar registros e maiores explicações à população.


Tudo bem, perdoável.

Também cometo o mesmo pecado – com o perdão do uso indevido do vocábulo – em solo brasiliense: não executo um milímetro de obrigações se não passar antes no Outback. Às vezes volto para Porto Velho sem ter cumprido um compromisso sequer. Quando percebo, gastei todo o meu dinheiro. Com Fernandes a mesma coisa: assim que me dei conta, este já havia “torrado” todo nosso vintém, amigo contribuinte.


O dinheiro exaltado é oriundo dos enlaces políticos costurados por Garçon que, adiante, vê em Edésio e na Igreja Evangélica fortíssimos aliados para sua campanha à reeleição; o vereador novato, por outro lado, precisava de uma força para o intento de chegar à Assembleia Legislativa (ALE/RO). Por isso, recebeu esse empurrãozinho sendo desenhado como um verdadeiro supervereador.

Se eu estiver equivocado e agindo injustamente e a notícia for cem por cento verdadeira – e moralmente honesta – a conclusão sumária só pode ser: não precisamos mais de deputados federais!


Garçon está sempre em Porto Velho, onde detém escritório político, tornando completamente desnecessária pretensa intervenção da vereança sob qualquer ponto de vista no Plano Piloto.


O registro que não poderia faltar / Foto.: Divulgação

Não importa se é legal: o cidadão precisa abrir os olhos para o que é imoral, antiético e, caso seja algo errado e mesmo assim esteja inserido dentro da lei, brigar para que se torne crime – ou pelo menos improbidade administrativa.

É preciso repudiar essa gastança desordenada de dinheiro público para fazer politicagem. Aliás, necessário frear a prática em todos os sentidos, por quaisquer motivos que sejam.

Edésio é só um exemplo sintomático entre milhares de como as coisas funcionam no Brasil: afinal, se ele conseguiu R$ 4 milhões para Porto Velho, me chamem de Colombo a partir de hoje, pois eu descobri a América.


Observação – Imagine que cada um dos 52 municípios tenha 10 vereadores, um a menos que a metade da Câmara de Porto Velho. Seriam 520 edis. De repente, todos resolvem “participar de audiências em Brasília” recebendo o mesmo número de diárias com valor idêntico às liberadas na Capital, ou seja, cada uma a R$ 595,08.  

A gastança seria de R$ 1.237.766,04.

Os cofres públicos chorariam mais do que já esperneiam.

Exceto, claro, se os 520 fossem também supervereadores e, a exemplo do pastor, trouxessem R$ 4, 1 mi para seus respectivos municípios.  Aí seriam R$ 2.132.000.000,00.  

Vamos parar de conversa fiada, né? 


Autor / Fonte: Vinicius Canova

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