RD Entrevista – Professor Nazareno, o mais odiado de Rondônia



Texto.:
Vinicius Canova
Fotos.: Gregory Rodriguez

Porto Velho, RO – Levado à risca, o título que batiza esta entrevista pode soar tão exagerado quanto o 16º convidado a participar de RD Entrevista, seção publicada exclusivamente pelo jornal eletrônico Rondônia Dinâmica.

Entretanto, ao menos na Internet através das redes sociais e também nos espaços dedicados a comentários nos sites de notícia onde são publicados seus artigos, não há político corrupto – preso ou ocupando cargo eletivo – que tenha recebido tantos posicionamentos negativos e pejorativos; alguns, mais exaltados, recorrendo até mesmo à xenofobia no intuito de defenestrá-lo.

Logo, na seara cibernética regionalizada, José do Nazareno Silva, o Professor Nazareno, pode ser considerado sem sombra de dúvidas o cidadão mais odiado do Estado.

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Nesta conversa, porém, fez questão de apresentar outras facetas de sua personalidade controversa.

Nazareno expõe o porquê de orgulhar-se da profissão escolhida e do trabalho realizado na Escola João Bento da Costa; conta por que o ENEM virou negócio; responde se é ou não um professor “carrasco” e relata os reflexos de seus textos no seio familiar.

E ainda:

Por que Educação é o único tema tratado com seriedade em suas dissertações; como um grupo de professores reergueu e impulsionou – sem apoio do poder público – a instituição onde leciona e a importância do Projeto Terceirão.


Professor Nazareno: "Tenho medo de levar um tiro" / Foto.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)

Perfil e trajetória

O jornalista, professor e escritor José do Nazareno Silva, conhecido como Professor Nazareno, nasceu no dia 23 de agosto de 1958 na Fazenda Ingá, interior de Araçagi, Paraíba, a 90 km de João Pessoa. Aos 58 anos, é casado e tem dois filhos. É formado em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), graduado em Pedagogia pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e é pós-graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Produção de Textos. É articulista e leciona Língua Portuguesa e Redação na Escola Estadual João Bento da Costa.



Rondônia Dinâmica – Qual a história por trás do Professor Nazareno até chegar ao Estado de Rondônia?

Professor Nazareno – Minha vida se resume praticamente em dois aspectos: o primeiro, minha história na Paraíba; o segundo, a trajetória que trilhei até aqui e a partir daqui. Eu nasci no interior da Paraíba. Depois fui para a Capital, vi e convivi com a Ditadura Militar. E desde aquela época já não gostava do Brasil.

RD – Por que não gostava?

PN – Não sei por quê. Vivíamos uma ditadura feroz e eu tentei sair do Brasil. Um dos caminhos seria sair para o Peru, onde tinha um amigo, Fernando Baima, na cidade de Arequipa. E saí de João Pessoa, na Paraíba, até Rio Branco, no Acre. De lá eu deveria cruzar a fronteira para chegar à Arequipa a fim de encontrar o Fernando. Só que entre Porto Velho e Cuiabá, em janeiro de 1980, gastei nove dias, até mesmo empurrando ônibus nessa BR-364, que nem era BR na época.

RD – E aí parou em Porto Velho mesmo, pra ficar?

PN – Chegando aqui em Porto Velho, não sabia se era capital de Rondônia ou de Roraima, pois sou igual o Weslley Safadão [o cantor disse que Ariquemes fica em Roraima], confundo muito ainda [risos]. Então, acabei ficando em vez de ir. E foi no boom da transformação do Território em Estado. Fiquei. Um mês depois de me instalar em Porto Velho conheci o professor Mário Nishimura e ele me levou para Calama, a linda Calama, na divisa com o Amazonas.


RD – Se refugiou da ditadura por lá mesmo, então?

PN – Lá, a intenção era dar aulas durante três meses no lugar de uma professora licenciada por conta do período de gestação. Acabei ficando cinco anos em Calama e foi o melhor lugar do mundo! Hoje ainda mantenho muitos contatos que fiz em Calama.    Com isso, fugi da Ditadura Militar.

RD –  E como acabou regressando à Capital?

PN – E só voltei para Porto Velho em 1985 com a eleição indireta de Tancredo Neves. Aqui fui diretor da Escola Petrônio Barcelos, trabalhei por muito tempo no Colégio Orlando Freire e, no ano de 1998, vim para o João Bento da Costa.


RD – Daí que veio o Projeto Terceirão?

PN – Junto com outros professores, o professor Arimatéia, o professor Walfredo Tadeu e o professor Suamy, fundamos o Projeto Terceirão na escola pública. E esse projeto deu certo. Gosto de dizer que o projeto é como se fosse um filho meu. Eu tenho dois filhos, o Ricardo e a Rafaela, ambos rondonienses, minha esposa também é rondoniense, daqui do Rio Madeira, da Ilha de Assunção. Estou casado há 34 anos. Mas gosto de dizer que o Projeto Terceirão, aqui do João Bento da Costa, é uma espécie de filho meu. Por que filho meu? Porque foi criado junto com outros colegas e hoje é da comunidade, da Zona Sul e praticamente de toda a cidade de Porto Velho e do Estado de Rondônia.

RD – O senhor se tornou reconhecido socialmente justamente por aquilo que não pretendia, ou seja, não foi pela Educação, pelos ensinamentos, enfim, pela cátedra e suas implicações. Os artigos críticos, polêmicos, cheios de ofensas e ironias publicados na mídia renderam publicidade enorme à sua figura. O que o inspirou a escrever esses textos e por que publicá-los na imprensa? Se recorda do primeiro artigo publicado?

PN – Lembro, foi o artigo intitulado “Em Rondônia é assim mesmo”. Depois do advento da Internet comecei a observar que, de um modo geral, as pessoas que vieram pra cá ou não tem senso de autocrítica ou são desonestas consigo mesmas e com a sociedade, porque basta ter olhos para perceber a realidade.

RD – E que realidade é essa?

PN – Eu costumo dizer que não vim para Rondônia, estava passando por aqui e, como Porto Velho é uma curva de rio, tudo fica, inclusive eu. Observei que outros irmãos meus foram para Curitiba, São Paulo, também tenho irmão no exterior, e visitando esses parentes, vi a diferença que existe entre determinadas cidades e Porto Velho, principalmente na área da política: a roubalheira sempre foi muito grande aqui. Tem dado uma trégua aí nos últimos dois anos, ou de um ano pra cá. Deu uma trégua. Mas grande parte das pessoas que vieram pra cá se especializou em roubar isso daqui e voltar para suas terras de origem.

RD – Mas isso não acontece só aqui...

PN – Pois é... Mas Porto Velho deveria ser infinitamente melhor do que aquilo que é. Agora, pelo amor de Deus, uma cidade em pleno Século XXI que tem 2,7% de saneamento básico e aproximadamente 15% de água tratada é um absurdo! É uma cidade que tem duas grandes hidrelétricas, Capital de um Estado que tem 12 milhões de cabeças de gado. É um Estado localizado entre dois grandes biomas reconhecidos mundialmente, a Selva Amazônica, a Amazônia, e o cerrado. Um Estado que tem sol em abundância, que tem até frio de vez em quando. Tem de tudo aqui e, mesmo assim, não é um Estado pujante, não é rico. Por que não é um Estado pujante e nem rico? Provavelmente por causa da grande passividade do povo que está aqui. As pessoas daqui, os nativos e os que pra cá vieram, são gente passiva demais! Pessoas que aceitam viver diante do esgoto, da fedentina, da falta de arborização embora a gente esteja no meio da Floresta Amazônica. E as pessoas dizem que eu falo mal de Porto Velho. Eu nunca falei mal de Porto Velho! Eu mostro a verdade, a verdade que vejo. Só que essa verdade incomoda...

RD – Mas não exagera às vezes nas adjetivações?

PN – Pode ser que haja exageros... Pode ser que haja! Agora, é preciso observar quais são as mentiras que estão dentro desses textos. Há sete ou oito anos que escrevo textos. Claro, é um mote meu trabalhar a realidade em que eu vivo. Por quê? Porque é aqui que eu pago imposto. Eu não estou satisfeito com a cidade de Porto Velho porque acho que ela deveria ser muito melhor. Eu pago imposto aqui! Estou aqui há 37 anos pagando o imposto que deveria ser revertido em benefícios para toda a comunidade. De certa maneira, a gente precisa criticar. Eu acredito, Vinicius, que se em Porto Velho houvesse dez pessoas que escrevessem como eu escrevo, às vezes até mesmo exagerando um pouco, as coisas poderiam melhorar, porque gera pressão em cima dos responsáveis por toda essa desordem. Nesses oito anos em que escrevo, por incrível que pareça, nunca fui processado. Nunca fui processado! Não é que eu queira ser processado...


RD – Não está pedindo por isso, está?

PN – Eu não estou pedindo para ser processado. Mas eu nunca fui. Por quê? Porque eu não falo mentiras. Eu falo verdades, só que são verdades que incomodam. A Capital de um Estado, repito, em pleno Século XXI, ter apenas 2,7% de saneamento básico, entra prefeito e sai prefeito, entra governador e sai governador. Meu cunhado esteve recentemente internado no Pronto Socorro João Paulo II: gente, pelo amor de Deus, aquilo é um campo de extermínio de pobres! Os nazistas matavam judeus nos campos de concentração; a elite rondoniense e os governantes matam pobres no João Paulo II. Aquilo é um campo de extermínio! E eu vou estar satisfeito com aquilo? Eu vou estar satisfeito com a ponte escura? Eu vou estar satisfeito com os viadutos inacabados? Eu vou estar satisfeito com a poeira chegando e a fumaça permeando o ar que respiro, ainda mais agora no início do verão? Eu vou estar satisfeito com a lama do inverno? Eu vou estar satisfeito com as alagações? Eu vou estar satisfeito com as coisas que só vejo praticamente aqui? Aí você pode dizer: “Mas Porto Velho é uma cidade nova”.

RD – E não é?

PN – Conversa fiada! Maringá, no Paraná, é uma cidade muito mais nova do que Porto Velho. Londrina é mais nova. Palmas, em Tocantins, idem. Palmas é uma cidade nova, dê uma olhada lá!

RD – Mas esses exageros que costuma utilizar seriam, ao mesmo tempo, uma estratégia de marketing pessoal, um método para angariar mais e mais leitores? Se sim, vale a pena correr os riscos de gerar repercussão majoritariamente negativa?

PN – Você precisa, de certa maneira, balançar o coreto dessas pessoas. Essas pessoas estão muito acomodadas, sabe? “Ah, não! Eu não quero que falem mal da minha cidade. Não sou rondoniense, mas sou rondoniense de coração”. Ah, me engana que eu gosto, rapaz! Não existe isso... Papo furado. Aí dizem: “O senhor está cuspindo no prato que comeu”. Pare com isso também, pelo amor de Deus. Ninguém, nenhum Estado, nenhuma cidade e nenhum lugar dá nada a ninguém.

RD – Quem é que dá, então?

PN – O que você tem é fruto da sua competência, do seu trabalho, da sua honestidade. Seja honesto, sincero, trabalhe, seja competente, aí você consegue chegar lá. Lugar nenhum irá dar nada a ninguém. Volto a dizer: nunca falei mal de Porto Velho, apenas mostro a verdade. É uma cidade suja, sem saneamento básico, fedorenta, cheia de lixo esparramado por aí, que não tem praças, não tem arborização. É uma cidade que não deveria ser uma cidade! Eu chamo Porto Velho de currutela fedida, com todo o respeito às currutelas.

RD – O último texto de grande repercussão que o senhor escreveu foi “Em busca de um símbolo”, publicado no site de notícias Tudo Rondônia e...

[Interrompe]

PN – Duzentas mil pessoas praticamente acessaram o artigo, fora os comentários, compartilhamentos no Facebook...

RD – Isso mesmo. Então, apareceram pouquíssimos defensores, gente que concorda com o que o senhor diz; outros – a grande maioria – detestaram. Como recebe essas críticas e de que maneira lida com elas no dia a dia?

PN – Eu respeito todos os meus leitores. Mas me estranha muito eu ter leitores. Já falei isso várias vezes. Diante da possibilidade de você ler Michel Foucault, Jean-Paul Sartre, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Shakespeare, Camões, Euclides da Cunha, Drummond, Clarice Lispector, o cidadão vai atrás de ler o Professor Nazareno. Isso significa, honestamente, que você não tem nível nenhum! Lamentavelmente, embora respeite meus leitores, acredito que deveriam se aprofundar mais em leituras boas. Outro fato: grande parte dessas pessoas que exerce a crítica, e isso eu respeito muito, poderia, efetivamente, produzir textos ao contrário dos meus!

RD – Na sua visão, por que não o fazem?

PN – Será que eu tenho matéria suficiente e eles não têm? Por que a ponte é escura? Por que os viadutos estão inacabados? Por que nós temos somente 2,7% de saneamento básico? Por que nós não temos água encanada? Por que não temos praças? Por que não temos recantos de lazer? Por que não temos arborização? Depois da Banda do Vai Quem Quer, por exemplo, fotografei as ruas mostrando o lixo. Aí você me diz: “Mas nas outras cidades isso também ocorre!”.

RD – Mas não ocorre?

PN –  Eu não pago imposto nas outras cidades! Eu pago imposto aqui! Eu tenho de falar daqui! Eu reclamo daqui! Outras cidades são outras realidades, quem quiser que fale. Quem quiser que reclame. Quem quiser que vá atrás. Eu procuro falar daqui, porque é aqui que vivo, e aqui é onde criei meus filhos. Eu procuro mostrar os defeitos que a cidade tem, as verdades que vejo.  Eu não gostaria de falar sobre isso, honestamente. Veja agora, o caso do atual prefeito, que até deu uma “melhoradazinha” na cidade, dá pra você perceber isso daí.

RD – Melhorou em que sentido?

PN – Melhorou um pouquinho, um pouquinho só. Agora, as pessoas se deixam enganar de maneira muito fácil pelas promessas que aparecem. E eu tenho de combater isso daí. Procuro mostrar a realidade da cidade e das pessoas. Reitero, respeito meus leitores, todos eles, apenas os critico porque acredito que eles tenha à disposição opções muito melhores de leitura e perdem seu tempo com o Professor Nazareno. Aliás os meus textos, ouvi dizer, com uma tristeza muito grande, são até mesmo lidos nas universidades daqui. E deve ser por isso que as universidades daqui tenham o nível que tem.


RD – O senhor chegou a dizer que trabalha para formar cidadãos que não leiam o Professor Nazareno. Até que ponto isso é verdade?

PN – Eu trabalho com meus alunos aqui no João Bento, no Projeto Terceirão, há 15 ou 16 anos por aí. Procuro criar em todos eles a consciência crítica que tem faltado em muitos cidadãos. Até para que não leiam o Professor Nazareno. Mas caso venham a ler, se tiverem de concordar, que concordem; se tiverem de discordar, que discordem. Gosto de dizer que 40% dos meus alunos levariam um tiro por mim; os outros 40% dariam o tiro e os 20% restantes não participaram da pesquisa porque não estão nem aí pra p.... nenhuma mesmo! Então tem de ser assim: “Não concordo com uma palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-las”. Então eu escrevo texto, gosto de escrever e de mostrar as realidades como as vejo.

RD – O senhor disse que já escreveu mais de mil textos. Publicados na imprensa, tem ideia de quantos?

PN – De 400 a 500 textos publicados na mídia de Rondônia. Devo ter redigido mais de mil textos sim, de modo geral. São textos que abordam questões do cotidiano. Claro que dou ênfase maior às questões daqui de Porto Velho, Rondônia. E por incrível que pareça são os textos que chamam mais a atenção, os que falam daqui. Porque quando escrevo textos falando sobre outras realidades quase ninguém comenta ou está preocupado. As pessoas gostam de ler, aparentemente, os textos em que falo daqui.

RD – Não sente que muitos de seus críticos tentam cobrir a parte que lhes falta em termos de cidadania repelindo-o em comentários e textos publicados na Internet?

PN –  Exatamente! Aquele texto, “Em busca de um símbolo”,  me fez pensar que Porto Velho deveria ter como símbolo o Jeca Tatu, porque somos 510, 520 mil matutos num canto só! Somos a sexta ou a sétima periferia do capitalismo. Em primeiro lugar vem os Estados Unidos; em segundo, a Europa;  em terceiro não sei quem... Depois Rio de Janeiro e muito depois Porto Velho. Nós não nos reconhecemos como tal. Nós nos portamos como a última cereja do bolo, a última Coca-Cola da geladeira. E não somos. Nós somos fracos, chinfrins, extremamente limitados e não queremos reconhecer as nossas limitações.

RD – O senhor diz não se levar a sério como autor de textos e às vezes sequer concorda com a grande maioria de tudo o que escreve. Isso faz algum sentido?

PN – Faz, faz... Porque eu poderia muito bem escrever textos só falando mentiras e hipocrisias. Aí eu seria uma pessoa extremamente adorada, lisonjeável, aplaudida. Isso realmente não faz meu estilo. Procuro mostrar às pessoas que elas têm de se olhar no espelho, enxergar seus próprios defeitos. Muitas vezes eu não concordo com o que escrevo. Mas escrevo! E por que escrevo? Porque ainda não é proibido escrever. Porque as palavras estão ali e a gente vai, faz a colocação e muitas vezes dá certo. O nosso transporte coletivo é péssimo; a nossa estrutura urbana é péssima; nossa mobilidade urbana não existe, então, a cidade apresenta uma série de problemas. Rondônia apresenta uma série de problemas. E chega de propagandas ufanistas, otimistas demais! Elas são mentirosas. Elas mentem.

RD – Quais as consequências de ignorar aquilo que o senhor entende como mentira?

PN – A gente precisa ver a verdade. Por isso tento mostrar aos meus alunos essa verdade, inserindo-os num contexto de criticidade. Porque isso falta muito nas pessoas, aos jovens, principalmente. Eles não são críticos. As pessoas não são críticas. Platão, uma vez, disse: “Em relação ao conhecimento as pessoas se dividem em três tipos: os sábios, que falam sobre ideias; os normais, que falam sobre coisas e os medíocres”. E os medíocres, trazendo à contemporaneidade, são os que estão assistindo à Rede Globo, o tempo todo na Internet sem fazer nada de útil, fuçando no WhatsApp, no Facebook... E grande parte dos rondonienses, e aí eu me incluo também embora não seja rondoniense, e muito menos rondoniense de coração, é muito medíocre. Nós somos muito medíocres e não queremos enxergar essa mediocridade que existe dentro da gente.


RD – Professor, o que representa esta camiseta [aponta para a camiseta do João Bento da Costa vestida por Nazareno] para o senhor?

PN – O João Bento da Costa e o Projeto Terceirão são como se fossem o meu terceiro filho, como já disse. Aqui é onde eu me realizo. Aqui recebo críticas sem problema algum e, após receber a crítica, saio abraçado com os meninos. E eles me criticam. Não tem vida fácil aqui, porque é isso que eu ensino. Mas também critico cada um deles se eles errarem e os elogio quando acertam. A recíproca é verdadeira nesta instituição. Hoje mesmo eu dei uma aula [a entrevista foi realizada na terça-feira, 13] e o menino me disse: “P...., professor! Que aula boa do cacete essa que o senhor deu”. Desse jeito! “Que aula boa do cacete!”. Eu não tinha visto por esse lado aí. E tem outros que não gostam da minha aula, faz parte.


 

RD – Os alunos chegam a misturar o homem de opiniões, autor de textos críticos, com o professor? Eles conseguem fazer essa distinção?

PN – É... Muitos deles não conseguem, mas evito ao máximo trabalhar dentro de sala de aula com qualquer texto meu.

RD – Nunca trabalhou com seus textos?

PN – Dificilmente trago texto meu para dentro de sala. Dificilmente... Mas geralmente faço um texto antes de toda aula elaborada para mostrar meu ponto de vista em relação ao fato apresentado. Aí eles têm mais ou menos uma ideia de como a coisa tem de ser trabalhada em termos de estrutura. Por exemplo, um texto meu – desses publicados na imprensa  trabalhado numa prova do ENEM provavelmente tiraria zero. Por quê? Porque são irônicos, grandes. E muitas vezes metem o sarrafo mesmo, apresentam reclamações, tocam na ferida. Porém não os utilizo em sala de aula, quero deixar claro. Procuro trazer outros temas e discutir com cada uma desses alunos, corrigindo suas redações, enfim, fazendo todo um trabalho onde eles possam desenvolver suas capacidades críticas.

RD – Já se arrependeu de algum artigo publicado?

PN – Me arrependi porque não falei tudo que tinha de falar. O espaço é muito pequeno e eu não posso fazer um texto muito grande porque as pessoas não vão ler. Então tenho de fazer textos curtos. Mas me arrependo porque deveria ter falado mais ainda e não consegui. Às vezes não consigo mostrar a realidade do jeito que deveria por conta disso. Por exemplo, no texto “Em busca de um símbolo”, pelo amor de Deus, o que fizeram com o Espaço Alternativo de Porto Velho? O Espaço Alternativo nem deveria existir ali naquele lugar!

RD – Por que não?

PN – Eu te pergunto: se houver uma tragédia à tarde? Sei lá, imagine um avião que vai pousar no Aeroporto Internacional, que não é internacional coisíssima nenhuma, e acontece uma tragédia? Que Deus livre todos nós disso daí. Mas pergunto: com pessoas caminhando lá, como é que será o trajeto do resgate, do socorro? A Aeronáutica deveria observar isso. E deveria ser criada uma rota do aeroporto para a cidade que não fosse pela Lauro Sodré e muito menos pelo Espaço Alternativo. Teria de haver uma terceira rota, proibindo as pessoas de caminhar ali. Aquilo dali é um absurdo! E o que fizeram com o Espaço Alternativo? Eu não vou falar aqui, todo mundo sabe o que foi feito. Vários políticos foram eleitos por conta do Espaço Alternativo, alguns foram presos, arrancaram todas as árvores e agora colocaram aquelas “letrinhas”. Para quê? Para enganar trouxas. Que coisa ridícula aquelas “letrinhas”... Então, é um Espaço Alternativo? Não! É a ida para o Aeroporto e a vinda do Aeroporto para a cidade. Se acontecer uma tragédia com algum avião a Aeronáutica será responsabilizada.

RD – Que mal há em caminhar ali?

PN – Todo! Porque se as pessoas estão caminhando como é que será o fluxo de bombeiros, ambulâncias e socorristas com elas no meio do trajeto? Isso não pode! É um absurdo! Porto Velho deveria ter um Espaço Alternativo na beira do rio. A cidade de Santarém, no Pará, tem um espaço lindo, um calçadão margeando o Tapajós e o Amazonas. Manaus tem! Humaitá tem! Qualquer cidade praticamente do Amazonas e do Pará, à beira de rio, tem. Porto Velho não tem. O que é o porto de Porto Velho? Aliás, até o porto, agora rampeado, está parado! Faz mais de um mês que o porto está parado. E o que tem na beira do rio além de lixo, lodo, imundície, rato podre e urubu?


RD – O local mais adequado, então, seria à beira do Madeira?

PN – Claro que sim! Lugar de caminhar deveria ser na beira do rio. Mas não. Fizeram na rota para o Aeroporto. Pelo amor de Deus, isso não existe, gente! Aquilo ali não é o Espaço Alternativo, é o caminho para o aeroporto e a volta dele para a cidade. Então, reclamo muito exatamente por isso, as coisas aqui são estranhas. Qual é a data do Flor do Maracujá? Vamos para a questão da cultura? Qual é a data do Flor do Maracujá? Você não sabe me dizer. Ninguém  sabe. Qual é o local onde é realizado o Flor do Maracujá? Ninguém sabe. Ninguém sabe... Porque não tem data, não tem local, não tem nada aqui! É uma bagunça só! Então eu reclamo dessas coisas.

RD – O senhor não acha que deveria pedir desculpas ao povo e ao Estado de Rondônia?

 

PN – Pelo contrário. Eu abri os olhos de muita gente. Muita gente abriu os olhos porque eu mostrei como é a cidade onde essas pessoas vivem. E faço um convite a quem quiser: vá lá em Curitiba, em Maringá. Gosto dizer: uma das piores coisas que fiz na minha vida foi ter ido visitar a Europa. Por quê? Porque passei vinte dias na França, na Alemanha e visitando vários países. E quando acordei eu estava na Avenida Jatuarana, em Porto Velho. Quando eu acordei, estava no Espaço Alternativo. Quando acordei, estava, definitivamente, em Porto Velho. Então as pessoas daqui deveriam visitar as cidades lá fora. Deveriam olhar “lá fora” como as coisas funcionam. Os políticos têm de pedir desculpas ao povo de Rondônia, todos eles. Cada político deveria pedir desculpas ao povo de Rondônia, não eu, que apenas mostro a realidade. E desafio: por que não se cria um Professor Nazareno ao contrário para mostrar as belezas daqui?

RD –  Acredita que alguém toparia o desafio?

PN – Não sei. Deveriam fazer isso, mas como não tem o que mostrar as pessoas ficam incomodadas. Então, se tivesse de escrever tudo de novo, eu faria sem pestanejar. Para ver se acordo essas pessoas no sentido de que elas passem a cobrar de suas autoridades, de seus gestores, seus governantes. Elas estão acomodadas pensando: “Se meu filho está na escola particular, se tenho um bom plano de saúde, ótimo, graças a Deus e ponto final. O resto que corra atrás”. Então não é assim que a banda toca... “Eu moro em condomínio fechado, não tenho nada a ver com a violência, então ótimo, não estou exposto aos problemas e às mazelas da cidade, logo não tenho o que cobrar dos governantes”. Isto não é postura de cidadão!

RD – Vou ler para o senhor trecho de alguns comentários que foram postados no texto sobre o símbolo de Porto Velho. “Um infeliz desse vem matar a fome aqui”; “seu bosta”; “volte lá para o Nordeste no meio da caatinga e morra de fome por lá”; “filho da p***”; “esse tal professor nazareno, com "n" minúsculo, deve ter pego [sic] um chifre muito grande aqui” e por aí vai. Existe tréplica para essas adjetivações?

PN – Não, porque desceria o nível. Eu baixaria meu nível para discutir nesse tom e não é isso que busco. Eu noto que essas pessoas, embora tenha grande respeito por elas mesmo sem saber quem são...


RD – São várias...

PN – Não sei quem são essas pessoas, mas tenho grande respeito por todas elas. Mas o que me mais me incomoda é quando me mandam voltar  para o meu Estado de origem, a Paraíba. Faz quase quarenta anos que eu saí de lá [risos]. Esse pessoal realmente não gosta de mim. Eu vou voltar para a Paraíba pra fazer o que lá? Pelo amor de Deus. E outra coisa: eu não pago imposto lá, eu pago imposto aqui. A questão da Paraíba é para os paraibanos que estão lá. Eu não estou lá. Eu não morro de amores pelo meu Estado, nem morro de amores por isso aqui e nem morro de amores pelo Brasil. Eu sou um cidadão do mundo, pelo amor de Deus! O pior dos sentimentos coletivos é o patriotismo, que levou ao nazismo e ao fascismo. Por que vou gostar de Rondônia? Por que é que eu vou gostar do Paraná, do Rio Grande do Sul e do próprio Brasil? Se eu morasse em Genebra, na Suíça, eu criticaria a cidade. Porque critico ou procuro criticar o ser humano. Ele sim é cheio de imperfeições e quer passar uma ideia de perfeição. Então eu vou criticar sempre os erros, quando vejo situações como erros. Só isso.

RD – Sabendo das reações que o senhor vai experimentar ao publicar seus textos, não pensa na sua família, no que ela pode sentir ao ler os comentários mais pejorativos?

PN – A gente fica com medo, eu diria. Às vezes vejo comentários assim mais pesados e fico com medo. Mas meus filhos muitas vezes não concordam comigo, minha esposa também. Aliás, praticamente eles nem leem. Eles têm a vida deles, eu tenho a minha. Agora, faz medo sim! Dia desses fiz outro texto dizendo que eu tenho medo de levar um tiro, né? Eu tenho medo de levar um tiro, tenho muito medo sim. Mas não vivo a vida dos meus filhos, da minha esposa e nem dos meus familiares de modo geral. Eu vivo a minha vida. E claro: sempre fiz tudo por eles, faço tudo por eles. Eles têm suas próprias convicções, seus times de futebol do coração e filosofias de vida. Eles têm o CPF deles e eu tenho o meu. Volto a dizer: às vezes tenho medo. Geralmente eu não olho os comentários, mas quando vejo e leio essas manifestações como as que você expôs na pergunta, aflora o receio de que alguém chegue às vias de fato, ignorando o fato de que a minha proposta é promover a discussão de ideias. 

RD – O autor, não o alter ego, tem sentimentos? Ele sente aquilo que lê nos comentários? O José do Nazareno Silva é afetado emocionalmente pelas reações adversas desencadeadas pelos seus escritos?

PN – Não, não... Procuro olhar aquilo e dissimular, deixar pra lá. Porque cada um de nós dá o que tem. A sua verdade não é a minha; e a minha, não é a do outro. Eu não consigo compreender. Às vezes consigo identificar que alguns críticos são pessoas inidôneas. Identifiquei um crítico que já foi preso. Outro, envolvido com pedofilia, respondeu processo e foi condenado por armazenar pornografia infantil no computador. Então há muita gente aí com ficha corrida e uma vida inteira de relações espúrias e não republicanas querendo esquadrinhas uma moral que não tem usando meus artigos como escada, pintando falsa cidadania. Às vezes eu identifico isso e, na realidade, tenho pena. Acho que essas pessoas deveriam ter um pouco mais de cuidado. Dizer: “Acho que esse Professor Nazareno levou muito chifre aqui”. Isso não foi uma coisa direcionada a mim. Foi uma ofensa dirigida à minha esposa. Eu nem mostrei e nem mostro essas coisas pra eles, enfim. Volto a dizer: se nós tivéssemos ao menos dez pessoas escrevendo como escrevo, acredito que nossos gestores e administradores teriam mais cuidado em relação à cidade e ao Estado.

RD – O senhor se enquadra naquilo que a direita define como “doutrinador marxista”?

PN – Não, porque não me considero de direita, nem de esquerda e nem de centro. O que está errado, a meu ver, eu digo que está errado e tenho a coragem de dizer. E o que está certo eu digo que está certo e tenho a mesma determinação de expor. Já votei no PT... Eu já votei no PT. Já votei no Lula, mas não votei na Dilma. Votei no Lula na primeira eleição. Na segunda, já não votei por causa do Mensalão. E entendo que todo ser humano deveria se envergonhar do governo que tem. E eu me envergonho de todos eles, graças a Deus.

RD – O senhor é um homem ético?

PN – Eu procuro ser ético, mas não sou. Não sou ético porque praticamente não vejo ninguém ser. Eu procuro ser. Procuro ter bom senso, coerência, mas é muito difícil vivendo no país que nós vivemos. Então aqui no Brasil você vive dentro de um meio que te incentiva a ser corrupto, desonesto. A gente nunca é totalmente ético, porém eu gostaria de ser.

RD – E honesto?

PN – Ético, honesto e fazer tudo dentro daquilo que é correto. Eu só gasto o dinheiro do meu salário. Procuro não gastar o dinheiro que não tenho. Ensinei isso aos meus filhos. E digo isso aos meus alunos. Me orgulho da minha profissão, gosto muito dela. Sou casado com a mesma mulher há 37 anos e procuro ser ético, honesto e viver dentro das possibilidades que tenho. Agora, tenho quase certeza de que cem por cento ético nós não conseguimos ser. É muito difícil, muito difícil...

RD – O senhor escreveu outro texto muito polêmico em 2013 chamado “O frio não combina com Rondônia”. Este artigo, especificamente, soou deliberadamente ofensivo. Qual foi a intenção ao publicá-lo?

PN – Esse texto aí foi um exagero. Eu fiz em homenagem ao Professor Nazareno, por incrível que pareça.

RD – Ao alter ego?

PN – Sim, ao alter ego. Esse texto sou eu. Eu me vi dentro desse texto. Tem exageros? Tem! Claro que tem... Mas esse texto sou eu. Já falei: acordei um dia e a temperatura estava 25º  e eu achei muito frio. De repente, estava de calção, fui buscar água, coloquei um casaco mais grosso e senti frio. Me vi ridículo naqueles trajes, de calção e sandálias. Parecia um papangu, um verdadeiro palhaço. Eu disse: “Meu Deus, o frio não combina com Rondônia”. E quando disse isso acendeu uma luz, sentei diante do computador e fiz o texto. E as pessoas acabaram pensando que a carapuça era para elas. E não era. A carapuça era pra mim. Eu adoro mandi frito, eu como mandi frito! Eu tomo vinho Sangue de Boi e Chalise. Ou você acha que eu tomo vinho Cabernet Sauvignon? Eu não sou o Lula, pô!

RD – Mas de vez em quando não dá pra gastar um pouco mais pelo prazer?

PN – Que nada, meu amigo! Eu tomo é vinho Sangue de Boi. Ou compro um Dom Bosco mesmo e bebo. Só que no caso do frio, eu me senti completamente ridículo naquelas vestimentas.

RD – E a roupa tinha cheiro de naftalina, como o senhor descreveu no texto?

PN – A blusa que eu usei sim. Barata voando e cheiro de naftalina, com certeza. Aquele texto foi uma homenagem a mim, uma autocrítica. Por exemplo, quando eu fui agora tirar fotos lá nas “letrinhas” do Espaço Alternativo também me senti ridículo. Que culpa eu tenho se as pessoas vestem a carapuça? Elas vestem a carapuça... Então assim: vejo que nós tentamos imitar muito tudo aquilo que acontece em outros lugares, e aí é onde nós erramos.

RD – Já ofendeu alguém diretamente, nominalmente?

PN – Não! E nem o farei. Não teria coragem de fazer isso de maneira alguma. Porque respeito todos os meus leitores, todos eles. Eu tenho um blog: o Blog do Tio Naza. Imaginei que seria lido por mim, pela minha esposa e talvez pelos meus dois filhos, neste caso porque eu os obrigaria a fazê-lo [risos] e no máximo mais uns dois ou três alunos. Então, resumindo, pensei que umas cinco pessoas iriam ler de vez em quando. E olha... Tem dias que chego a mil e duzentos, mil e quinhentos leitores no meu blog. Ou seja, as pessoas leem porque adoram quando se fala de outras pessoas.

RD – Quando escreve sobre o João Bento da Costa ou se o tema é Educação de modo geral, o senhor parece se despir do alter ego e soa mais como José do Nazareno Silva, o educador. Por que essa mudança de comportamento em relação a esses assuntos?

PN – Porque quero ser entendido cem por cento. Assim, o Projeto Terceirão do colégio João Bento da Costa, claro, óbvio, não é o Nazareno, nunca foi. Mas é o professor Arimatéia Dantas, o professor Tadeu, o professor Suamy Vivecananda, o professor Chiquinho, a professora Lucineide, são os professores dos primeiros anos, do segundos anos, são todos os funcionários desta escola que vêm, vestem a camisa o ano inteiro. Venha aqui na quinta-feira (15), dia de Corpus Christi [repise-se: a entrevista ocorreu na terça-feira, 13].  Venha de manhã aqui, eu vou estar aqui pra gente tirar fotos. Venha no domingo para você ver a garotada fazendo simulada: no Primeiro Ano, no Segundo Ano e também o Terceirão. Aqui se respira Educação vinte e quatro horas por dia!

RD – Isso o deixa realizado profissionalmente?

PN – Sinto aqui nesta escola toda minha realização como profissional. Estou me aposentando este ano e talvez até no máximo em agosto deva sair minha aposentadoria. E eu vou continuar trabalhando aqui até o final do ano, já aposentado e não precisa me dar absolutamente nada. E vou continuar nos próximos anos se a Direção da escola permitir e acho que ela quer que eu fique aqui.

RD – Mas remunerado de que maneira?

PN – E aí, para o ano, vou ver se alguém me dá uma gratificação porque estarei aposentado, e é direito meu estar, mas quero continuar trabalhando aqui. Por quê? Porque a profissão mais importante que existe é a de professor. E eu como professor tenho compromisso com meus alunos mesmo com minhas falhas e defeitos. Então eu gosto do colégio João Bento da Costa, sempre gostei, desde que vim pra cá. Todos os professores do João Bento da Costa demonstram ter compromisso com isso daqui. E o Terceirão não é mais Arimatéia, Tadeu, Nazareno e só. O Terceirão é da cidade de Porto Velho, do Estado de Rondônia.


RD – E de onde vem tanto carinho e respeito?

PN – O João Bento da Costa é motivo de orgulho. Se você pegar os 30 melhores alunos por escola, em 2015, 2016, o João Bento da Costa ficou em 2º lugar em redação no Brasil entre todas as escolas estaduais do País. Então não tem como não ter orgulho desta escola, sou orgulhoso de tudo isso que foi construído com muito suor, trabalho e dedicação. Falta muita coisa ainda aqui, muita coisa, mas é um trabalho feito aos poucos e com qualidade. Aqui é, de fato, a minha segunda casa.

RD – O que está faltando pra ser excelente?

PN – Lamento de fato a gente não ter educação em tempo integral como na Escola Brasília. Ah... [suspira] Eu passo lá e fico com uma inveja da Escola Brasília porque lá tem ensino integral, o aluno fica de manhã e à tarde, almoça na escola mesmo. Gostaria que o João Bento fosse assim também. O João Bento vai me deixar saudades, muitas saudades. E tudo que eu puder fazer por esta escola e pelos alunos, farei com o maior prazer.


RD – O senhor fez uma jogada tentando alterar a autoria de seus textos para um pseudônimo motivado pela revolta gerada pelos artigos. Entretanto, desistiu e voltou como Professor Nazareno ao escrever “Professor Nazareno, o lixo de Rondônia”, num texto onde se desnuda do alter ego e dá explicações demais sobre motivações e objetivos.  Isso é um sinal de desistência?

PN – Tentei postar artigos como Antônia Inocência da Silva, que é o nome do meu perfil no Facebook. Já é meu quarto perfil, porque tive outros que, por conta de denúncias, foram eliminados pela administração da rede social sem que eu pelo menos soubesse por quê. Então tentei jogar essa carga para o pseudônimo Antônia Inocência exatamente por causa das pancadas que levo, que o Professor Nazareno leva. Estou cansado, cansado de levar porrada. Mas observei que escrevi o texto “Em busca de um símbolo” assinando-o como Antônia Inocência, pseudônimo do Professor Nazareno e não adiantou. Não adiantou...

RD – Por que deu errado?

PN – Porque o pessoal identificou ali o Professor Nazareno. Se eu não levar um tiro, vou continuar escrevendo. E vou continuar elogiando o governador Confúcio Moura (PMDB), o prefeito Hildon Chaves (PSDB), vou continuar elogiando o Edgar do Boi (PSDC), vou continuar elogiando Eduardo Cunha (PMDB), desde que cada um mereça ser elogiado! E vou continuar falando mal de todos eles se merecerem as críticas. Porque procuro mostrar a verdade, pelo menos a verdade que eu enxergo. Não adianta elogiar alguém que não mereça ser elogiado, porque eu estaria sendo hipócrita. Não vou “detonar” uma pessoa que não mereça ser criticada, pois seria injustiça. E eu não quero ser nem hipócrita e nem injusto. Eu quero ser real, verdadeiro. Então é essa pegada que faço, que não vejo na maioria das pessoas.

RD – Profissionalmente falando os artigos lhe afetaram?

PN – Não, de maneira alguma. Aliás, pode ser, de repente ninguém queira me contratar. Eu sou professor de Língua Portuguesa e Redação. Agora... Eu como professor de Redação tenho de fazer o quê? Ora, produzir textos! Fazer redações. Se eu sou professor de produção de textos e não escrevo nada, então não sou professor de produção de textos. O engenheiro tem de assinar uma planta, fazer um prédio; o médico tem de fazer operações e tal e o professor de produção de textos tem de fazer o quê? Produzir textos!



RD – Mas todo texto tem de ser rançoso?

PN – Por que eu tenho de produzir só textos que venham a agradar algumas pessoas? Não. Às vezes eu produzo textos que agradam, como “Educação: acesa a luz do túnel”. Achei interessante aquilo dali, um trabalho bonito feito pela Seduc e aí eu fiz um texto a respeito. Mas se de repente eu achar que não é daquele jeito? Tenho todo o direito de falar a minha verdade, de mostrar a minha realidade e a minha versão.

RD – Vai continuar, então?

PN – Sim, vou continuar produzindo textos, lamentavelmente. É uma tristeza dizer isso aos leitores, mas vou continuar produzindo textos porque cem pessoas podem não gostar do que escrevo, mas haverá uma ou duas que sim. Claro, lembrando que sempre haverá aqueles que não estão nem aí porque nem leem. Por isso, vou continuar. Eu gostaria de não produzir textos. Gostaria que todo mundo me desmentisse em relação a Porto Velho, a Rondônia. E gostaria que as autoridades, os administradores “jogassem na minha cara”: professor, o senhor não tem razão. Quero que me digam: “O senhor está sendo injusto, falando algo que não existe”. Estou esperando até hoje alguém se manifestar  nesse sentido. Estou esperando alguém dizer que o porto é bonito, que o aeroporto é maravilhoso, que a rodoviária com seus lindos banheiros é algo lindo de se ver, que os viadutos são obras de gênio, que as Três Caixas D’Água foram criadas por Rodin, enfim, gostaria de tudo isso. Mas não vejo nada disso, o que vejo aqui é só matutice, só coisa brega. Aí você me diz: “Então vá pra São Paulo”.  Lá é pior! “Vá para o Rio de Janeiro!”. Pior ainda...


RD – E pra Cuba, ainda não mandaram o senhor?

PN – Eu ir pra Cuba? Nem comunista eu sou! Eu não sou comunista...

RD – Mas algumas pessoas o veem como esquerdista, comunista, marxista e vários outros 'ista's'...

PN – Eu não quero nem saber disso. Não sou de esquerda e nem de direita, como falei. Até se falarem: “Vá morar em Genebra” com certeza, se morasse, falaria mal de lá também. Vou pelo menos começar a falar mal da neve, pode ter certeza [risos]. Eu não sou um cidadão acomodado, passivo. Eu reclamo sempre. Agora, se eu fosse governado por porcos e vivesse dentro de um chiqueiro talvez não reclamasse. Só que eu sou um ser humano e, nesta condição, vou reclamar sempre. Isso é natural das pessoas. Quem não reclama, muitas vezes, é porque está satisfeito, acomodado com o que tem. Eu não estou.

RD – Voltando ao JBC: qual é o segredo do sucesso da escola quando o assunto é a redação do ENEM, professor?

PN – O segredo é que aqui a gente faz a coisa diferente. Diferente em que sentido? As escolas, de modo geral, trabalham a Língua Portuguesa, pronto. Mas dentro da Língua Portuguesa deve-se estudar Redação e Literatura, só que geralmente são apensos descartáveis em outros colégios sabe-se lá por quê.  Eu trabalho, corrijo em média 14 mil redações por ano aqui no João Bento. Cada aluno meu faz de 20 a 25 redações. De 20 a 25 redações por ano!

RD – E há quanto tempo o senhor utiliza esse método?

PN – Há mais de doze anos. Eu tenho LER [lesão por esforço repetitivo] de tanto corrigir redações. Então eu tenho setecentos alunos este ano. Com cada aluno fazendo em média 20 redações, são 14 mil redações. No ano passado em corrigi 12.300 redações. E o faço tranquilamente: é minha obrigação fazer isso. Quanto mais eles escrevem, mais aprendem a escrever. Mas é preciso deixar claro que o sucesso do João Bento não é só na redação. É na matemática lecionada pelo professor Neizinho; em história com o professor Tadeu; em geografia com o professor Suamy; é da professora Mônica com Química; da professora Lucineide com Biologia; é da Direção da escola, enfim, é do todo.

RD – É, afinal, um trabalho em grupo de iniciativa dos próprios funcionários sem intervenção do poder público?

PN – É uma fórmula, uma composição de sucesso que deu certo por iniciativa de profissionais orgulhosos e que acreditam na Educação. Isso vale para todos os setores: o servente, o porteiro, todo mundo engajado aqui no sentido de fazer a escola de maneira profissional. Então é isso que me dá prazer! Esse é o diferencial do João Bento e que toda escola deveria ter, mas infelizmente não tem. Nós somos melhores até mesmo do que algumas escolas particulares, pode ter certeza disso. Por quê? Porque nós temos compromisso. É um compromisso do Corpo Docente, da Direção, dos funcionários do colégio e da maioria dos nossos alunos que vem pra cá imbuídos dessa ideia de fazer a coisa funcionar para eles próprios.


RD – Esse sucesso do JBC nas provas do ENEM não credenciaria o colégio a um olhar mais generoso por parte do poder público, a exemplo do Murilo Braga, do próprio Brasília – já mencionado pelo senhor – e até mesmo do Tiradentes de Jacy-Paraná?

PN – Realmente não sei responder a isso daí. Mas são muitas escolas, não me recordo o número ao certo. Só que se o governo der prioridade ao João Bento, provavelmente outras escolas podem se sentir desprestigiadas. Meu grande sonho, quando comecei a lecionar lá em 1976, portanto há 41 anos, era presenciar escolas de nível integral, como é o colégio Brasília hoje. Eu gostaria que os alunos do João Bento viessem de manhã para a escola em transportes cedidos pelo poder público; almoçassem aqui e estudassem à tarde também. Gostaria muito.

RD – Então está de bom tamanho do jeito que é?

PN – Acho que o João Bento merece sim ser visto com outros olhos. Só que não posso falar porque não sei qual é a realidade da Seduc. Eu sou professor aqui dentro de sala de aula, não sei qual a realidade e nem o objetivo deles. Mas vejo assim: pelo o que o João Bento da Costa tem feito nos últimos quinze anos para o Governo do Estado como um todo, para a Seduc como um todo, entendo que a escola mereça, com certeza, no mínimo um pouco mais de atenção.

RD – Um auditório para “aulões” integrados, por exemplo?

PN – Sim, um auditório para “aulão”, ar-condicionado a gente já tem, mas com algumas dificuldades. Mais espaço, enfim, acho que a Seduc poderia começar a olhar para essas questões. Não é trazer política partidária para dentro da escola. Isso daí rejeito completamente, mas trazer, aí sim, a política de Educação. A Seduc tem de atender ao Estado inteiro. Recentemente ela fez o “aulão” no Palácio das Artes, e eu achei maravilhoso. E as pessoas dizem que eu só critico, né? Achei interessante a Seduc fazer um “aulão” e ter convidado os professores daqui pra dar aula lá. O Palácio das Artes, enfim, serviu para alguma coisa. Olha que maravilha... Mas o João Bento, com ou sem ajuda do poder público, vai continuar trabalhando de forma intensa porque passou a ser um patrimônio da Zona Sul, aliás, de toda a sociedade de Porto Velho e respeitado no Estado inteiro. O Ensino Médio é referência.

RD – As suas aulas de Redação são plurais em termos de pensamento? O senhor costuma apresentar várias visões sobre um mesmo tema?

PN – Sempre faço isso. Procuro mostrar as várias tendências que norteiam a nossa sociedade. Costumo dizer ao aluno que tenha determinada religião, por exemplo, e eu respeito muito isso nele e em todos os outros, que existem varias crenças diferentes se posicionando, muitas vezes, de maneira oposta à fé que ele escolheu seguir. Se ele tem um time de futebol, uma filosofia de vida, enfim, sempre haverá posicionamentos contrários. Nietzsche disse que nós aprendemos muito com os inimigos, que são muito importantes. Claro que a gente deve traduzir a palavra inimigo para opositor, entendendo o outro lado como adversário de ideias apenas. E qualquer batalha tem de ser travada no campo retórico, do embate crítico e argumentativo com embasamento.

RD – A evolução intelectual depende, então, do contraditório?

PN – Nós só aprendemos a partir do momento que temos embate de ideias, quando conversamos com quem tem posicionamentos diferentes dos nossos. Então procuro mostrar isso aos alunos, de modo geral. Trabalho redação e a produção de textos e eles terão de fazer isso lá no ENEM. Por isso escancaro as várias realidades diferentes da política, da sociedade, da economia, da religião, da cultura, do lazer, de tudo! Embora não me considere de direita ou de esquerda, apresento o que esses lados pensam a respeito dos temas discutidos em sala de aula. Já me falaram: “Seu texto é reacionário”. Mas também já fui chamado de “petralha”. As pessoas realmente não me conhecem.

RD – O senhor seria o que denominam como “isentão”, então? Você se vê assim, professor?

PN – Dessa maneira, eu procuro mostrar as coisas como elas são.

RD – Mas compreende que essa adjetivação é pejorativa, não?

PN – Claro que tem, lógico. Mas eu digo aos alunos, em sala de aula, que meu objetivo não é fazer com que eles pensem como pensa um cidadão reacionário de direita ou de esquerda. Meu objetivo é fazê-los pensar! Basta isso. Se você pensar está de bom tamanho.

RD – Professor, o senhor nos disse que o ENEM virou negócio. Por quê?

PN – A partir deste ano o ENEM não divulgará mais o ranking por escolas. Por quê? Porque a escola que ficou em primeiro lugar usa isso para auferir mais alunos, agindo como verdadeira empresa. De modo geral, as escolas públicas procuram fazer um trabalho sério em cima do ranking publicado pelo ENEM. E virou negócio! Escolas que selecionam os melhores alunos, no caso das escolas particulares. Escolas que usam outro CNPJ só para separar os melhores alunos a fim se manter sempre nos primeiros lugares. E na verdade há vários termômetros para aferir a qualidade de uma escola. Essa história de dizer “Essa escola é a melhor de Porto Velho” não é bem assim... É preciso questionar: mas por que a melhor escola de Porto Velho se os professores estão insatisfeitos, se os alunos estão insatisfeitos? “É a melhor escola de Porto Velho porque ficou em primeiro lugar no ENEM”, bobagem isso daí. Existem vários rankings e termômetros para medir isso. E o ENEM virou negócio, infelizmente. Por isso, a partir deste ano, não divulgará mais o ranking.

RD – Embora seja admirado por alguns alunos, há quem destoe, inclusive publicando opiniões em seus textos. Uma leitora, que diz ter sido sua aluna, dá a entender que o senhor seria estúpido com as pessoas, agindo como verdadeiro “carrasco” em sala de aula causando até mesmo a desistência delas em relação ao Terceirão.  O senhor se vê como um “carrasco” dos alunos?

PN – “Carrasco” eu não diria, mas sou realista. Para um aluno que apresenta 52 erros numa redação, por exemplo, digo claramente: “Meu filho, procure se alfabetizar”.

RD – O senhor ridiculariza os alunos?

PN – Não, porque você não pode mais fazer isso. Mas chamo o aluno em particular, converso com ele e mostro a realidade.  Alguns acham legal, bacana, às vezes até motiva uma mudança de postura.  Outros não gostam e a gente percebe isso daí. Mas é preciso dizer. O professor tem que dizer isso para o aluno. Eu gosto de dizer pra eles: a pior coisa do mundo é você dar tapinha nas costas do outro e dizer que está tudo bem, que está tudo tranquilo, quando na verdade não está. Ele precisa melhorar e isso é doído! Ninguém quer dizer isso. Ninguém quer fazer a crítica. Nós temos excelentes professores no Estado de Rondônia e no Brasil inteiro. Grandes professores. Agora, temos professores compromissados?

RD – Temos?

PN – Esta é a pergunta que eu faço. Professor que vê o aluno escrever errado o próprio nome e fica calado está compromissado com alguma coisa? Eu vou em cima. Eu corrijo as redações olhando erro por erro, mostrando onde ele tem de melhorar. “Pegue as suas dez últimas redações. Leia todas elas”. Essa aluna queria o quê? Que eu não dissesse nada sobre a redação dela? Que eu não falasse nada sobre a redação ter problemas? “Tem um erro aqui. Não gostei da introdução, deveria ter sido assim. Você se equivocou completamente. Olhe os erros gramaticais. Você não sabe a diferença entre ‘mas’ e ‘mais’. Você não sabe quando e como usar figuras de linguagem” e por aí vai.

RD – O aluno fica revoltado quando isso ocorre?

PN – Às vezes incomoda o aluno. Agora, o ENEM não vai ter pena dele. As pessoas que mais nos ajudam são as que apontam nossos defeitos; as que mais prejudicam são aquelas que enxergam nossas falhas e não fazem nada para resolvê-las. É perigoso lidar com pessoas que querem nos agradar a todo custo, de qualquer maneira. Resumidamente é isso, procuro mostrar isso a eles: “Você precisa melhorar nisso, nisso e nisso”. Engraçado é que os alunos que sempre tiram dez comigo não falam nada. Não é cômico? Então não tem de ser por aí. Essa aluna que fez a crítica, eu a respeito, deixo bem claro, mas provavelmente deve ter ido mal em redação, portanto precisa ler e estudar mais um pouquinho, né?


RD – O professor de Língua Portuguesa tem de se desdobrar quando leciona, ao mesmo tempo, Literatura e Redação. Talvez por isso nem toda escola tenha um docente ensinando a fazer dissertações. O que é preciso para suprir essa deficiência educacional já que o texto é critério imprescindível de avaliação imposto pelo ENEM?

PN – Há dezoito anos o ENEM passou a cobrar a redação. E há dezoito anos o ENEM está dizendo que os alunos do Brasil não sabem escrever. Quais providências foram tomadas? Até agora nenhuma! Acho que a tendência, a partir dos próximos anos, é que o ENEM retire a redação como critério de avaliação. Os alunos não sabem escrever e, aparentemente, ninguém vai ensinar.

RD – É mais fácil desistir de ensinar e aceitar nivelar a Educação por baixo, então?

PN – Infelizmente é isso. As pessoas desistindo porque não estão nem aí para nada mesmo. Com isso, a mediocridade continua. Aliás, continua não, cresce de maneira monstruosa e sem freio. Não deveria ser assim. Redação tem de ser ensinada. Os alunos precisam produzir textos!

RD – A leitura não está sendo desencorajada e até mesmo banalizada atualmente?

PN – Rapaz, até pelos políticos, por homens públicos sem vergonha alguma. Nós tivemos um presidente, o Lula, que vivia se gabando por ser semianalfabeto dizendo por aí que não gostava de ler. É um idiota que faz questão de glamourizar a estupidez, com todo o respeito! A leitura tem de ser incentivada em todos os meios. Todo mundo tem que ler e escrever, produzir textos. E é esse o trabalho que eu faço aqui, incentivando os alunos na questão da leitura e da produção de textos.

RD – A que distância estamos de ver o Professor Nazareno na política?

PN – Eu não me envolveria jamais na política do jeito que as coisas estão. Não teria coragem de pertencer a um partido político. Não teria coragem de saber o meu preço. E eu tenho um preço, mas não quero saber qual é. Então não entro na política. Eu cheguei a dizer numa entrevista concedida à jornalista Sandra Santos, minha colega, pessoa por quem eu tenho grande carinho... E ela me perguntou por que eu não me candidatava. Eu disse: “Porque se for eleito desapareço deste lugar. Este lugar não mereceria progresso algum”. Eu eleito em algum lugar do mundo? Pelo amor de Deus... Sou muito mais útil sendo professor, alertando as pessoas, escrevendo textos. Agora, ninguém sabe, né? De repente se eu precisar saber qual é meu preço, se precisar me vender, se quiser me tornar uma prostituta, uma p**** mesmo, aí vou e entro na política, passo a pertencer a um partido e ganhar dinheiro aos montes. Mas não quero. Hoje eu não quero, não pretendo.

RD – Todo homem é corrompível?

PN – Eu acho que todo homem é corrompível, lamentavelmente. Todo homem tem seu preço e eu não quero saber o meu. E a política diz qual é o preço de cada um.

RD – O Professor Nazareno é o homem mais odiado de Rondônia?

PN – Talvez seja. Mas nunca roubei um centavo de ninguém. Nunca desviei um único centavo de quem quer que seja. Talvez seja o homem mais odiado, mas sempre cumpri com minhas obrigações, procurei ser honesto e ético, embora talvez eu não seja. Porém procurei fazer as coisas de maneira correta e ando sem medo na rua. Não devo absolutamente nada a ninguém. O que tento fazer é despertar reflexão, só isso. Está errado eu dizer que Porto Velho é uma cidade suja, imunda, podre e fedorenta? Estou errando em quê? Diga que não é, prove que só tem flores nas ruas, que as obras não estão inacabadas, que é tudo maravilhoso. Então assim: as pessoas podem ter raiva de mim, mas eu não tenho raiva de ninguém. Não consigo ter raiva de ninguém e apenas escrevo porque é natural. Ou não é? [risos].

RD – Qual recado o senhor daria a seus leitores?

PN – Gostaria de dizer aos meus leitores e hoje tenho mais de cinco [risos]: quando virem o nome Professor Nazareno, e não Antônia Inocência, até porque que não deu certo [gargalhadas], não leiam. Porque vai vir pancada sim! Vai ter pancada! Não vou, de maneira nenhuma, perder meu tempo para escrever um texto para que não cause “coceira” em ninguém. O texto tem essa função. Olha, só em relação ao “Em busca de um símbolo” eu contei, com o seu artigo, treze outros textos que fizeram em cima daquele que produzi. Ou seja, eu criei, sem querer, literatura. Alguns textos me defendendo; outros me atacando. E a maioria dos textos que me atacaram foi escrita por pessoas que são daqui, mas não moram em Rondônia. Que não estão aqui pegando o Interbairros 0-30. Que não estão aqui respirando a fumaça. Que não estão na lama. Que não estão aqui na sujeira e na fedentina. Aí escreveram textos dizendo que amam esta cidade. Respeito todo mundo, como disse. Agora, essas pessoas deveriam estar aqui pagando seus impostos e vendo como esse dinheiro é jogado fora observando o serviço público que nós temos.

RD – Professor, o Hino de Rondônia é desafinado mesmo?

PN – [Risos] Não, não, não, não... A desafinação é uma característica de pessoas, não de hinos, né? Ele é mentiroso, na verdade. “Somos destemidos pioneiros!”. Que nada, rapaz. Somos destemidos idiotas, isso sim! [gargalhada]. Destemidos pioneiros que só votam em político ladrão e corrupto? Que conversa é essa, meu amigo? “Nestas paragens do poente” [risos]. Eu costumo chamar os rondonienses de destemidos pioneiros, sentinelas avançadas [ironiza e ri ainda mais]. Gente, pare com essa hipocrisia. E o Hino do Brasil? Brava gente...

RD – Mas a letra é bonita, não é?

PN – A letra é bonita, mas é conversa fiada, assim como no Hino de Rondônia, cuja única coisa interessante é o final que diz: “Nossas matas, tudo enfim” [separa silabicamente a última palavra]. En-fim! Eles colocaram tudo enfim junto, quando deveria ser separado, porque está tudo em fim, se acabando mesmo! A única coisa que é verdadeira nesse hino.

RD – Professor, muito obrigado.

PN – Eu que agradeço o espaço.



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Autor / Fonte: Rondoniadinamica

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