RD Entrevista – Pantera, um comunista assumido no Estado de Rondônia



Texto.:
Vinicius Canova
Fotos.: Gregory Rodriguez

Porto Velho, RO – O sotaque nordestino é carregado. A gargalhada, única. Aos 53 anos de idade, o sindicalista Francisco Batista da Silva, conhecido como Professor Pantera, travou inúmeras batalhas políticas desde a adolescência.

Liderou também movimentos estudantis pelo Nordeste; provocou membros da Reitoria da UNIR – já em Rondônia – e hoje se sente ainda muito à vontade para falar do comunismo, doutrina ideológica levada a ferro e fogo tanto por ele quanto por seus correligionários e simpatizantes.

Nesta 13ª edição de RD Entrevista, seção publicada exclusivamente pelo jornal eletrônico Rondônia Dinâmica, o presidente regional do PCdoB fala sobre diversos assuntos.

Entre eles: o fascínio pela figura de Che Guevara, a quem considera herói; impressões sobre o ex-presidente Lula; os 95 anos da legenda comunista no Brasil; o possível fim do imposto sindical e os levantes populares na Capital Federal contra o governo Temer.

E ainda:

A história de como quase apanhou por usar camiseta com a estampa do ídolo; a tatuagem do rosto de Guevara feita aos 50 anos de idade; sua passagem na Secretaria Municipal de Esportes durante a gestão de Roberto Sobrinho e o porquê do apelido Pantera.


Francisco Pantera: quase apanhou nas ruas por conta de seu fascínio por Guevara
Foto.: Gregory Rodriguez (Rondônia Dinâmica)


Perfil e trajetória

Francisco Batista da Silva, o Pantera, nasceu no dia 05 de junho de 1964 em Serra Negra do Norte, no Rio Grande do Norte. Aos 53 anos, é casado e tem quatro filhos. É presidente regional do PCdoB; da CTB, já foi secretário municipal de Esportes e foi adjunto no Instituto de Pesos e Medidas do Estado de Rondônia.





Rondônia Dinâmica – Professor, quando foi que despertou o seu interesse pela política?


Francisco Pantera – Sou natural de Serra Negra do Norte, município ao lado da cidade de Caicó. Na cidade de Caicó tive minha infância e adolescência. Nasci no dia 05 de junho de 1964 e a partir dos 13, 14 anos comecei a militar na vida do movimento estudantil. E a cidade de Caicó é uma cidade culturalmente reconhecida, de efervescência cultural e tem toda uma história da luta política, presença política. É uma cidade polo regional do Rio Grande do Norte. Foi lá que comecei a minha militância no movimento estudantil e na juventude da Igreja Católica, Juca, e na Juventude Católica de Caicó, que também era Juca. E logo cedo naquele tempo eu me interesseni pela vida política, né? Aí militei no PMDB Jovem, aliás, no MDB Jovem, em 1978. E no MDB Jovem eu conheci o pessoal do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, o MR-8. Nesse período eu li meu primeiro livro do ponto de vista de política, sobre a questão da história do regime militar. O livro era “O que é isso, companheiro?”, do Fernando Gabeira.

RD – O livro lhe inspirou?

FP – Sim, porque a partir daí comecei a ter uma aproximação muito boa com o pessoal do MR-8. Em 81, eu saí e ajudei a criar o PT lá no Rio Grande do Norte. Eu era da Juventude Democrática do PT e nesse tempo agia no movimento estudantil. Depois e saí da Juventude do PT, militei por pouco tempo no antigo partidão, o PCB, e no dia 25 de outubro de 1983 me filiei ao PC do B. Filiei, não. Porque naquela época ainda era regime militar. Eu não me filiei, fui recrutado por um ex-guerrilheiro do Araguaia que estava reconstruindo o PCdoB no Rio Grande do Norte. O nome dele era Glênio Sá. Meu recrutamento ocorreu no encontro de estudantes lá em Mossoró, onde também estávamos reconstruindo Associação Potiguar dos Estudantes Secundaristas, a APES. Então, a partir do recrutamento para o PCdoB,  nunca mais saí do partido.

RD – E o que fez a seguir?

FP – Passei a agir, então, na militância. No Rio Grande do Norte, por exemplo, da reconstrução do PCdoB, da União da Juventude Socialista, esta criada pelo ex-ministro Aldo Rebelo, este cinco vezes deputado federal pelo Estado de São Paulo. Foi uma experiência muito boa, minha juventude foi toda dedicada ao movimento estudantil. Eu agia não só no Rio Grande do Norte como também na Paraíba. Eu deixei o movimento estudantil secundarista e aí ingressei na Universidade em 1989, junho de 89. Passei a estudar em Patos, Paraíba. Lá conheci o senador Lindbergh Farias, do PT. O Lindbergh Farias morava na Paraíba. Eu o conheci quando ele estava disputando eleições para o DCE [Diretório Central dos Estudantes] da Universidade Federal da Paraíba. Só que a gente era da mesma facção, chamada Juventude Viração do PCdoB. Então, após conhecê-lo, fui trabalhar nos campi da Universidade Federal da Paraíba no interior do Sertão.

RD – Quais eram as lutas no Sertão?

FP – Lá, nesse movimento, que pertencia ao Diretório Acadêmico da Faculdade Francisco Mascarenha, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Patos. Ingressei lá ao movimento estudantil em junho de 89 e, em 90, fizemos um grande movimento lá contra o aumento das mensalidades em instituições privadas. Terminou o semestre, nós entramos de férias e, ao regressarmos, as mensalidades haviam aumentado quase 70%. Por conta disso, nós desencadeamos greve de quase vinte dias. Levamos dirigentes da União Nacional dos Estudantes e nesse caso foi algo assim que marcou muito, porque fui expulso da faculdade. Eu e mais quatro líderes do movimento fomos expulsos. Mas uma coisa que marcou na minha vida, e até hoje me lembro, é que nós conseguimos baixar as mensalidades. Com isso, definimos um padrão de aumento com base nas universidades particulares em nível nacional e acabou a greve dos estudantes. Mas os estudantes colocaram uma condição: voltariam às salas de aula desde que a Universidade também reintegrasse os cinco líderes do movimento.

RD – Essa expulsão lhe rendeu problemas?

FP – Naquela época era difícil, muito difícil, ingressar na Universidade. Hoje é muito mais fácil. Então, naquele momento, eu não poderia fazer aquilo com meus pais, ser expulso assim sem mais nem menos. Seria uma coisa de causar grande decepção a meus pais, porque lá em casa só eu havia ingressado na Universidade e até hoje sou o único a ter Curso Superior.

RD – Mas conseguiu ser reintegrado?

FP – Depois que você ingressava naquele tempo numa faculdade particular, se fosse expulso, sua vida acadêmica ficava praticamente desgraçada. Mas fomos reintegrados, eu e os quatro companheiros. Desses cinco, três, eu e mais dois, saímos da faculdade, fomos embora. Aí fiz um concurso para vir a Rondônia. Passei e vim pra cá em 1990 trabalhar aqui.



RD – Como foram os primeiros passos em Rondônia?

FP – Eu era professor de Magistério, naquela época tinha o curso de Magistério do Ensino Médio. Então passei no concurso e vim pra cá. Ao mesmo tempo, consegui transferir o curso para prosseguir em Rondônia.

RD – Não tinha nenhum vínculo com Rondônia até então?

FP – Não, nada. Nem conhecia. Vim de ônibus, passei quase cinco dias na estrada, porque naquela época as estradas eram ruins. Saí de lá, parei em Brasília, fiquei quase um dia inteiro lá. Aí peguei o ônibus em Brasília e vim pra cá.

RD – Após isso o senhor passou a militar no meio acadêmico em Rondônia, não é?

FP – Aqui chegando, transferi o curso. Passei, então, não só a fazer faculdade, mas também a militar na UNIR. De 1990 a 1994 eu participei do DCE. Me sinto muito orgulhoso porque toda aquela geração que estava na UNIR de 90 a 94 hoje são pessoas bem sucedidas, com uma vida profissional definida. Alguns são juízes, outros promotores e tantos outros advogados bem sucedidos. Mas também há ótimos professores, médicos e por aí vai. E foi o momento de efervescência da Universidade. Não só militava no movimento estudantil, como passei a fazer parte da vida política aqui. Na mesma semana que cheguei aqui já transferi o título e passei a militar também no PCdoB.

RD – O PCdoB já existia aqui?

FP – Sim, já existia.

RD – E quem é o fundador do PCdoB aqui?

FP – Rapaz, tem uma turma. O Elisaldo Uchôa,  o Santiago, o Manoelzinho Comunista, o Jucelis Freitas, enfim, era uma turma muito boa.





RD – O senhor chegou  a ter problemas com a Reitoria da UNIR à época. Como foi isso?


FP – Houve um momento em que passei a militar por aqui e militava mais na universidade. E nós organizamos o movimento estudantil por lá. Na época havia 12 cursos. De 91 para 92, dos doze, com doze Centros Acadêmicos e o DCE organizado, com ramificações no Estado inteiro. Havia muita confusão na Universidade. O reitor era José Dettoni e o vice Ari Ott [risos]. Até hoje a gente tem embate. E tivemos muita confusão naquela época com o grupo mais ligado ao PCdoB e o pessoal do Ari Ott, do Dettoni e tal... Terminei a faculdade com seis processos.

RD – Que tipo de processos?

FP – Ah... Nós invadimos e ocupamos a Reitoria da Universidade, creio que pelo menos umas dez vezes. Houve muitas brigas por questões de horários de ônibus, que chegaram até mesmo a ser incendiados. Era um movimento muito forte e nós garantimos muitas conquistas: o restaurante universitário, ônibus com eficiência em termos de horário. Hoje todo mundo tem carro, moto. Mas naquela época dependia exclusivamente do coletivo.

RD – Foi o grupo do senhor que incendiou esses ônibus?

FP – Rapaz, eram os estudantes. Porque naquela época, na Universidade, era só o pessoal mais pobre. Os cursos da noite é que tinha mais o pessoal de classe-média. Mas o povo que estudava de manhã, nos cursos da Educação, e também à tarde, era formado por pessoas pobre, de periferia. Tinham de pegar um ônibus surrado, atrasado, para ir de lá pra cá o tempo todo.

RD – E como era sobreviver nessa época tendo que estudar, trabalhar e ainda militar pelos acadêmicos?

FP – Como eu estudava lá, praticamente morava na Universidade. Eu só trabalhava à noite. Estudava à tarde, mas todo dia eu ia de manhã para lá. Tive muita dificuldade porque na época eu era professor de Magistério e havia dias que eu almoçava com as senhoras queridíssimas, funcionárias de lá. A gente levava charque pra fazer com arroz, lembro até que uma pessoa que sempre nos ajudava lá no movimento estudantil era o padre Zenildo. Ele levava pão, queijo, mortadela... Era uma figura magnífica, gostava muito de nós e nós dele. E nós também nos envolvíamos muito em outras frentes de serviço na Universidade, que tinha programação cultural constantemente, festa de calouros... Nós fazíamos toda sexta-feira jogos acadêmicos, constantes torneios esportivos. Enfim, movimentávamos a Universidade.

RD – O que mais marcou em sua passagem pela UNIR?

FP – O fato de termos realizado acredito que o primeiro e único Festival de Música Universitária de Rondônia. Trouxemos o Belchior, Sá e Guarabyra, enfim... Mas a Universidade também foi um grande aprendizado. Então eu participava desses movimentos da UNIR e, em 1991 para 1992, fui ao congresso da União Nacional dos Estudantes, a UNE, em Campinas. Lá o Lindbergh Farias foi candidato a presidente da UNE. E a UNE tinha cinco regionais: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Eu tive, então, a felicidade de ficar na chapa com o Lindbergh e ser o vice-presidente da UNE, responsável pelos Estados do Norte. Nos movimentamos muito. Estive em várias manifestações estudantis. Na Universidade a gente costumava dizer: estamos aqui, mas não foi de passagem, mas sim para vivê-la, respirar a Universidade.

RD – E o engajamento em prol do trabalhador?

FP – Paralelamente, participei do nascimento do Sintero, das greves dos anos 90, que não foram fáceis. Vários enfrentamentos, embate contra forças policiais. O Sintero é o que é hoje não apenas por empenho das diretorias que passaram por lá, mas pelo engajamento e luta coletiva.



RD – A na política mesmo, quando começou a explorar esse lado aqui em Porto Velho?


FP – Depois disso passei a militar ainda mais pelo PCdoB. Em 91 já havia sido indicado como presidente do partido, já fui eleito e fiquei até 2004, quando contribuímos com a eleição do ex-prefeito Roberto Sobrinho (PT). Quando Sobrinho lançou seu nome para prefeito apenas o PCdoB e ele acreditavam que pudesse chegar à Prefeitura de Porto Velho. A vice, na época, era a Cláudia Carvalho, do PCdoB à ocasião. O próprio PT não botava fé. A nossa militância incorporou logo cedo na campanha e só depois é que o PT veio junto.

RD – E o senhor se arrependeu dessa decisão?

FP – Não, não nos arrependemos porque, na época, tivemos fortes enfrentamentos com o Roberto Sobrinho quanto ele foi presidente do Sintero. Nós éramos de oposição. Houve uma eleição, nós tínhamos uma chapa e ele outra. No processo eleitoral o Estatuto dizia que só poderia haver apuração se tivesse quórum nas eleições. Ou seja, mais de cinquenta por cento do total de votantes. E não tinha esse índice, havia dado 39%. A Comissão Eleitoral abriu as urnas e nós entramos com ação judicial que acabou gerando intervenção no sindicato.

RD – Essas intervenções vivem ocorrendo em sindicatos, não?

FP – É...

RD – Mesmo com essas brigas e com o resultado da gestão não houve mesmo arrependimento?

FP – Não teve porque nossa aliança foi feita em torno de um programa. Sobre a questão sindical, nos acertamos. Mas a ideia era fortalecer as propostas que, aos nossos olhos, eram boas.

RD – Sobrinho fez uma boa gestão?

FP – Nós consideramos, por exemplo, que ele fez uma boa administração no primeiro mandato. Mas depois ele passou a ser arrogante, prepotente e acabou se juntando com a elite da política rondoniense porque pretendia voar voos mais altos. Então as forças populares que o apoiaram foram deixadas de lado. Ele sequer ouvia pessoas importantes dentro do PT. E terminou como terminou... Portanto, não tenho arrependimentos. Porque política você faz alianças com partidos baseado em determinados programas.

RD – Mas romperam com o PT na campanha da reeleição do Roberto, não é?

FP – Nós rompemos e, quando foi na eleição posterior, a que reelegeu o Sobrinho,  nós não estávamos mais com ele, lançamos candidatura própria à Prefeitura de Porto Velho com o David Chiquilito.  Mais tarde o David chegou a ser vereador, chegou até a ser deputado, mas devido a recontagem de votos de um ficha suja, o Marcos Donadon, acabou perdendo o mandato.



RD – Mas o David tinha perfil comunista?

FP – Olha... David era um... Não é que não tenha. Porque a gente afirma sempre e costuma dizer que comunista não nasce comunista. É um aprendizado. Já tivemos muitos casos de pessoas que entraram e não se engajaram. O partido, como dizia Mao Tsé-Tung, é como uma casa que está com as portas sempre abertas. Então você abre e entram fungos, bactérias [risos]. Só que você tem sempre de manter a casa limpa, em ordem. O PCdoB tem 95 anos de existência, tem uma história. Você pensar o PCdoB hoje, é diferente do que pensar nele nos anos 80. Porque antes para ingressar no PCdoB você primeiro tinha de solicitar a entrada e esta, adiante, seria avaliada. Era um partido recém-saído da ilegalidade, foi clandestino. Na história do Brasil o PCdoB  está legalizado só há 30 anos aproximadamente.

RD – Este ano PCdoB completou seus 95 anos de existência. Qual a importância do partido no contexto político e histórico do Brasil e como iniciou suas atividades no Estado de Rondônia?

FP – Nós podemos afirmar que o PCdoB não é uma sigla exclusivamente eleitoral. Nós participamos dos processos de eleição porque é uma frente, a frente institucional. Mas nós temos a frente comunitária; dos jovens; dos estudantes e a sindical. Nós participamos entendendo que é importante a atividade do partido nessas variadas frentes para que possa se apresentar às massas, mostrando ideias e programas. No PCdoB regional nós tivemos pessoas importantes como a Cláudia Carvalho, o próprio David Chiquilito, e uma série de outras personalidades. Independentemente de qualquer coisa, o partido sempre esteve presente nas lutas. E  não só nas lutas sociais. Se você falar sobre as lutas sociais em Rondônia o PCdoB tem presença marcada em todas, seja com militantes nos sindicatos, seja com militantes nos grêmios estudantis, ou mesmo nos Centros Acadêmicos, Diretórios Centrais, enfim, nesses lugares e nessas lutas o PCdoB sempre irá estar. Ou seja, o PCdoB não é um partido que só vive de eleição.

RD – O PCdoB não busca, então, o protagonismo político?

FP – Sim, busca. Mas dentro de um contexto de chegar ao socialismo, construir um Brasil igualitário. E isso passa por um processo nacional desenvolvimentista. A aliança, por exemplo, que nós temos com o ex-presidente Lula, continuamos na Dilma. E entendemos que esse projeto foi golpeado.

RD – Golpeado em que sentido?

PF – Não só internamente, com movimentações de aliados que traíram esses princípios, mas também externamente com as massas de manobra que compraram essa ideia errônea a contribuíram para puxar o tapete do PT. O golpe que foi dado na Dilma, através das chamadas pedaladas fiscais, levou em conta algo que é ‘fichinha’ diante dos graves escândalos que vieram à tona após a queda da presidente eleita envolvendo inclusive o atual presidente Michel Temer (PMDB).

RD – E agora, acabou o sonho de chagar ao socialismo no Brasil?

FP – Nada disso! Para se chegar ao socialismo nós temos de ter um processo desenvolvimentista em nosso País, como disse há pouco. Ou seja, não só promover moradias, através de Reforma Agrária mais abrangente, mas lutar por outros pontos. Nós estamos vivendo uma verdadeira guerra civil no campo, uma situação extremamente grave.

RD – Grave?

FP – Oras, enquanto estamos falando de Reforma Agrária hoje, os Estados Unidos já fizeram no século XIX, a Europa no século XIX, tanto que esses problemas de terra é problema de países extremamente atrasados. Rondônia teve a Chacina de Corumbiara; Eldorado dos Carajás, e na semana passada mesmo, essa semana aí, assassinaram nove trabalhadores rurais no Pará; antes outros nove já haviam sido mortos em Colniza, Mato Grosso do Sul, mais ao Sul de Rondônia. Tem de haver uma Reforma Agrária justa e séria. A questão do agronegócio é importante. Agora, não é possível colocar os avanços nessa área acima do interesse em alimentar o povo, promover terra, moradia, dignidade ao cidadão. Você não pode atropelar o ser humano pelo progresso, por questões exclusivamente econômicas.

RD – Mas você admite que o Brasil vive uma crise?

FP – Admitimos sim, mas a solução para a crise não passa por tirar direitos dos trabalhadores, dos mais pobres. Entendemos que tem de baixar as taxas de juros para que os comércios possam funcionar devidamente. Exigimos que haja auditoria tanto na dívida externa quanto interna. Queremos saber como foram contraídos esses empréstimos que nos lançaram à penúria econômica. Outro projeto interessante, num momento de crise como esse, é taxas as grandes fortunas.

RD – Sua trajetória indica quase quatro décadas na política. É um homem de frente, de batalhas, tem envolvimento político com outros agentes, tanto que ocupou cargos públicos. Por que nunca alcançou um cargo eletivo através do voto, professor?

FP – Entendo que as eleições, não só em Rondônia, como no País inteiro, são muito desleais. Se você não tem dinheiro, poder econômico, não ganha eleição. São raros os casos de vereadores, deputados que se elegem sem grana. Às vezes são figuras populares, mas quando você vai olhar, por trás deles, há a força do tráfico econômico. Participei de campanhas sem condição sequer de sair de casa. Só fui candidato quando tive a estrutura mínima, pelo menos um carro para andar com gasolina suficiente para rodar com outras pessoas e fazer uma campanha digna.

RD – E isso não é desmotivador?

FP – Claro. Ser candidato também se torna deprimente quando você não tem condições de, pelo menos, concorrer. Nós somos contrários ao financiamento privado de eleição. Somos a favor de que as eleições sejam exclusivamente de financiamento público, porque daí você dá oportunidade a um estudante, um jovem que queira expor suas ideias, participar da vida política. Quanto mais você der igualdade às pessoas, melhor os políticos que nós produzimos. Agora, só me candidatarei se o partido quiser que eu me coloque à disposição. Por enquanto, é difícil. Difícil porque é muito desigual. Creio que isso irá acabar.

RD – Como irá acabar?

FP – Com esses novos escândalos e tantos outros problemas é possível que uma Reforma Política decente traga essa transformação necessária.

RD – Quantas eleições o senhor disputou aqui em Rondônia?

FP – Eu disputei uma eleição para deputado federal, muito bem votado na época, tive três mil duzentos e setenta e um votos; disputei três vezes o cargo de vereador por Porto Velho. Em 2008, disputei eleição, mas só coloquei meu nome pra ajudar o partido, quando o David concorreu. Na realidade, passei por um processo seríssimo. Doente, né? Uma doença grave, passei praticamente 60 dias internado, então praticamente não fui à disputa.

RD – Se sente vitorioso ainda assim?

FP – Nós fomos vitoriosos em várias campanhas. Fomos vitoriosos com o Roberto, que chegou à prefeitura; apoiamos o governador Confúcio Moura (PMDB), entendeu? E somos vitoriosos porque participamos com alguns quadros dentro dessas administrações. Alguns, de certa forma, tiveram problemas e isso termina respingando para o PCdoB. Mas o PCdoB é um partido que continua vivo, forte e com habilidade.

RD – Mas a influência do partido também atinge outras esferas políticas fora da atuação eletiva, não?

FP – Sim. Nós, por exemplo, conduzimos a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil em Rondônia, a CTB/RO, e temos forte influencia também no movimento estudantil, tanto nas universidades quanto nas escolas secundaristas através da Juventude Socialista, movimentos de mulheres, dos negros e assim por diante. A tendência é que o partido cresça, independentemente de uma Reforma Política.

RD – Em 2018, o PCdoB buscará quais cargos em Rondônia?

FP – O PCdoB deve lançar candidato ao Senado; chapa própria para deputado federal e estadual. Pode ser que, nesse processo, eu coloque até mesmo meu nome à apreciação.





RD – Depois de todo esse tempo na vida política, inclusive disputando cargos e não se elegendo, além de ocupar funções por tempo limitado em administrações que o PCdoB ajudou a eleger, o senhor não tem receio de ser considerado na história como uma figura folclórica?


FP – Não, não tenho... Porque tenho uma vida muito bem definida. Por exemplo, fui secretário municipal de Esportes na gestão do Roberto Sobrinho. Junto ao ex-ministro dos Esportes, que era o Orlando Silva, consegui fazer sete empreendimentos esportivos. Nós que trouxemos em 2005. Construímos quadra coberta em São Carlos; no Calama; no Nacional; no Três Marias e reformamos o Ginásio de Esportes do Esperança da Comunidade. Implementamos o futebol feminino interdistrital, criamos os Jogos Paradesportivos, elogiado pelo Comitê Olímpico Internacional. E isso tudo apenas em 2005. Também participei, durante seis anos, como adjunto Instituto de Pesos e Medidas do Estado de Rondônia, órgão burocrático e fiscalizador. Não sou folclórico até porque participei de todos esses processos  que relatei e ocupei os cargos descritos. Tenho a alma lavada e enxaguada, como diz o Odorico Paraguaçu, é que nunca houve uma só denúncia de que eu teria usufruído de algo por onde passei. Não sou um cara rico. Agora que estou terminando uma casa para morar aos 53 anos de idade. Tenho um carro pra andar e sou feliz da vida porque tudo que tenho foi adquirido através de meu esforço. Sou concursado no Estado e no Município. Estudei pra passar. Sou especialista em Metodologia do Ensino Superior e estou mestrando em Ciências da Educação. Então me sinto realizado. Tenho quatro filhos.  Duas se formando em Engenharia de Petróleo e Gás, outra em Enfermagem. Quero me aposentar daqui uns oito anos, formar meus filhos e continuar militante do partido. Quero continuar dando minha contribuição na luta pelo socialismo no Brasil.



RD – Vamos falar sobre a figura estampada na sua camiseta e tatuada no seu peito. O controverso Che Guevara, que divide opiniões. Alguns o veem como ídolo, herói da Revolução Cubana; outros, como um facínora, que metralhavam sem piedade homens, mulheres e crianças. Afinal, quem foi Che Guevara na sua visão, professor?

FP – Che Guevara foi um homem do seu tempo que viveu o seu tempo. Che Guevara foi um dos maiores revolucionários, o maior revolucionário da história da América Latina. Agora, há muitos exageros sobre ele. Acho que tenho seis livros biográficos sobre Che Guevara, inclusive suas de escritores americanos. Todas elas contam realmente quem foi Che Guevara. Tem de se entender o seguinte: qual é o jovem médico que atualmente assumiria ser um militante comunista largando a vida de playboy, do consumismo, das belezas da vida, das graças do dia a dia para se embrenhar na mata em meio a outros soldados para fazer revolução em Cuba? Ninguém! Jamais...

RD – Mas ele matou muita gente, não é?

FP – Tem de entender o tempo em que Guevara viveu. O Che Guevara tem a história dos diários de motocicleta, depois conheceu Fidel Castro. Ele era um sujeito idealista, porque circulou a América Latina, a América do Sul, e viu como eram as condições de vida do povo. Então  ele percebeu que deveria haver transformação. E o momento que ele viveu era de Guerra Fria. Desafiar o imperialismo americano no quintal deles, a 300 km de distância, não é pra qualquer um. Aliás, Guevara era convicto, queria mudar o mundo e transformá-lo, criando uma realidade diferente. Era um cara anticapitalista, anti-imperialista. Ele desafiou os Estados Unidos não só em Cuba, mas na própria ONU, em Washington,  botando o império americano contra a parede.

RD – E as mortes?

FP – Ele teve parte de sua vida fazendo revolução. E revolução não é coisa fácil: é guerra! E guerra você está para matar ou morrer.

RD – Isso inclui matar inocentes?

FP – Não... Aí... Quais os inocentes?

RD – Efeitos colaterais da revolução, opositores ideológicos do regime castrista...

FP – Ah, as pessoas dizem inocentes... Mas vamos dizer, os capitalistas não falam da fome que eles empregavam em Cuba. Cuba era o cabaré dos Estados Unidos. Na realidade Cuba era o cabaré dos Estados Unidos, principalmente da elite de Los Angeles. Cuba era comanda por meia-dúzia de latifundiários, inclusive o pai de Fidel Castro. Guevara deixou de ser ministro da Economia cubana para seguir no intento de espalhar a revolução ao mundo inteiro. Foi pra Tchecoslováquia, Angola, enfim. Uma critica que faço é que ele não teve a estratégia de chegar à Bolívia com um grande movimento organizado. Ele, por suas convicções, tentou fazer a revolução por lá e acabou morrendo.

RD – Ele era um perseguido, então?

FP – Perseguido no mundo inteiro.

RD – Então na sua visão ele é mesmo um herói?

FP – Sim, um herói! Como todos os homens têm. Os homens não são feitos apenas de grandes virtudes.



RD – E quando foi que o senhor decidiu marcá-lo na sua pele, tatuando seu rosto no peito?

FP – Tenho 53 anos. Aos 50, resolvi fazer isso. Porque eu já tinha um grau suficiente de conhecimento a fim de compreender o papel de Guevara na luta popular da América Latina.



RD – Então não foi aquela empolgação de adolescente...

FP – Não, não é coisa de adolescente. Porque tatuagem você tem de fazer com alta responsabilidade pra não se arrepender daqui vinte ou trinta anos. Tem uma frase do Che Guevara que marca muito: “Sentir profundamente qualquer injustiça em qualquer parte do mundo é a qualidade mais bonita de um revolucionário”.

RD – Então os críticos de Guevara estão mentindo?

FP – Por trás desse processo de acusações contra o comandante Che Guevara existe muito exagero. Muito exagero no sentido de tentar desqualificar o ser humano, o homem Guevara. Um cara humanista, que gostava da boa música, da filosofia. Gostava das lutas sociais e populares. Ele dedicou toda a sua vida à causa revolucionária e socialista. Não foi só o Guevara. A Revolução Cubana tem outros atores, como Camilo Cienfuegos, um jovem idealista, assim como Fidel Castro. O Guevara, para nós comunistas, foi um líder de grande valor. O capitalismo não tem isso.

RD – E deveria ter? É um jogo de perde-ganha?

FP – Não, mas o capitalismo tem seus mitos. Tem líderes de consumo transitórios. Os comunistas têm lideres definidos. E o Guevara para nós representa muito. É preciso relembrar o momento em que ele viveu. Hoje as coisas não são mais daquele jeito. Não há guerrilhas, não há mais grandes revoluções. A luta hoje é completamente diferente, mas no período em que ele viveu é factível que ele tenha feito o que teve de fazer, mas tudo pela sobrevivência.

RD – E quem perseguia seu ídolo?

FP – Até os anos 60 ele foi o homem mais perseguido pela CIA. Quando souberam que o Guevara estava na Bolívia, fizeram o possível para acabar com a vida dele. Tanto é verdade que só depois os restos mortais dele foram devidamente entregues.

RD – Mesmo que o senhor o veja assim, não tem receio da reação das pessoas que enxergam Guevara como um assassino?

FP – Sim, porque no Brasil, durante os anos 80, o Guevara era venerado. Esses movimentos que foram criados após os dois governos do ex-presidente Lula, gerando uma direita raivosa, elitista, começaram a instigar o ódio das pessoas contra tudo o que fosse progressista.

RD – Já foi agredido por causa desse fascínio por Che?

FP – Defendo que o ser humano tenha o amplo direito de usar a roupa que ele quiser, a camiseta com a estampa de quem ele quiser. E que o debate, se tiver de ocorrer, seja civilizado. Cada um tem o direito de defender o que quiser. Eu sou muito fã não sou do Guevara, mas também do Raul Seixas. Aliás, Seixas e Paulo Coelho, quando falavam sobre a sociedade alternativa. Eu também sou altamente admirador do rock revolucionário, festival de Woodstock e bandas como Led Zeppelin, Scorpions, enfim, de outra gestão. A juventude hoje não quer saber mais disso. Quer saber é do consumismo. Voltando ao assunto, pois bem, então foi criado um clima de ódio. Ano passado estava em plena Av. Sete de Setembro, eu descendo com a camiseta do Che Guevara, o um cara quase que me agredindo só porque estava vestindo uma camiseta com a estampa de alguém que ele não gosta.

RD – O que ele disse?

FP – “Olha aí, indo com a camiseta de um assassino, um sanguinário. Você é igual a ele”. Mas de onde ele tirou essa coisa toda? Quais as obras que o meu ofensor leu? Qual foi a biografia? Quem foi que disse isso? Porque há uma distorção muito grande em relação à questão do Che Guevara. Mas ele é, para os comunistas, repito, revolucionário que vive eternamente.



RD – O que é, então, ser comunista?

FP – Ser comunista é ter coragem de mudar o mundo. Eu sou daquele tese: aquele que nasceu e não veio para transformar não deveria nem ter nascido, certo? Ser comunista é lutar pra que a riqueza do mundo seja de usufruto coletivo, pra que o mundo seja de paz. É defender uma sociedade justa e humanamente igual e esse é o nosso futuro. Porque as pessoas estão muito desinformadas.

RD – Desinformadas?

FP – A época das redes sociais faz com que as pessoas se apeguem a pouca informação. As pessoas não leem mais. Os ídolos de hoje são caricatos. Os jovens, quando você conversa com eles, percebe que estão muito alienados. Somos produto desse capitalismo que existe hoje, o homem cada vez mais egoísta. Estamos criando uma geração de medíocres.

RD – Que tipo de mediocridade?

FP – Daquela que faz com que a pessoa se esconda dentro de si. Cada um por si, sempre. O processo neoliberal veio com uma carga filosófica muito grande, e o mundo coletivo foi esquecido. Quando se fala em coletivo, dizem que é coisa de sonhador, de comunista. Os críticos dizem que fazer um mundo igual para todos é coisa de comunista, utópico.

RD – Mas vocês acreditam nisso, não é?

FP – Acreditamos! O homem que não tem utopia, para nós, é fraco. Continuamos com esse sonho de construir uma sociedade socialista. Relembrando aqui que um terço da Humanidade vive sob o sistema socialista.



RD – E como pode dar certo?

FP – Como conceito tanto o capitalismo quanto o socialismo nasceram juntos. Mas apartados, na prática, o capitalismo tem mais de cinco séculos, quase seis. O socialismo tem cem anos, completos neste ano a partir da Revolução Russa. Então o capitalismo precisa de um geriatra; o socialismo, de um pediatra. O socialismo errou em suas construções, mas China, Cuba, Vietnã, Laos, Camboja, Coréia, cada um com sua forma de construir o socialismo. E o socialismo, nesses países, continua em construção. A China foi um exemplo para o mundo tirando mais de 500 milhões de pessoas das colocações abaixo da linha da pobreza em menos de 50 anos. E não são só os comunistas que dizem isso. E aí existe uma ignorância...

RD – Qual ignorância?

FP – As pessoas falam “países comunistas”, e não existem países comunistas. Isso é um equívoco. O que existem são países de experiências socialistas. Marx afirmava que comunismo só existiria no dia que a maioria dos países do mundo fosse comunista e não houvesse Estado para controlar ninguém, polícia pra controlar ninguém, porque o povo terá, nesse momento, adquirido patamar de consciência plena sem necessitar de instituições para geri-lo. Então o socialismo é um sistema em evidência.



RD – Falando em termos de veia ideológica, há dados que indicam mais de 100 milhões de mortos em países de “experiências socialistas”. Isso porque o ideário aplicado abre alas a lideranças de aparência democrática, mas que na verdade são verdadeiros ditadores. O senhor não concorda com isso?

FP – Existem os erros. Nós acreditamos que, nesses cem anos de experiência socialista, houve exagero na construção do socialismo na Rússia, por exemplo.  Principalmente na época de Stalin. Agora, não podemos negar que Stalin foi um grande estadista, o homem que organizou o Estado Soviético. Na realidade não houve uma 2ª Guerra Mundial...

RD – Ué, não?

FP – Não. A guerra era entre Hitler, nazifascista, e Stalin, com a União Soviética. Os Estados Unidos entraram na guerra já ao final e até hoje Alemanha, Inglaterra e França pagam pelas balas que gastaram lá.

RD – O senhor acha que vai viver pra contemplar um Brasil mais comunista?

FP – Sim, acredito. Independentemente de qualquer coisa, sou de uma geração que demorava a ter as coisas. Fui ter minha primeira bicicleta aos 16 anos de idade. Hoje os caras com quinze, dezesseis anos já querem carros. Creio que o mundo caminha para o avanço civilizatório. O mundo caminha para o socialismo. Enquanto tiver fome, vai ter guerra. Enquanto houve explorados, terá luta. Mas, mais cedo ou mais tarde, haverá revolta. Acredito que é possível sim um Brasil mais comunista depois que essa tempestade passar.



RD – Sem se aprofundar sobre as reformas propostas pelo governo federal, o que o senhor acha, especificamente, sobre a proposta de extinção do imposto sindical?

FP – No meu ponto de vista quem tem de resolver isso são os trabalhadores através dos sindicatos em assembleias gerais. Os sindicatos de luta podem viver perfeitamente sem imposto sindical. Mas o que está por trás disso é tentar acabar com os sindicatos. Porque se colocam todos no mesmo balaio. Sindicato é pra financiar a luta dos trabalhadores. O Lula saiu foi do meio sindical. A elite tem medo do povo de sindicato. Mas a triste mesmo é essa Reforma Trabalhista de quinta categoria, uma agressão.

RD – Na manifestação do dia 24, que saiu do controle, setores da imprensa acusaram sindicatos e centrais de patrocinar arruaceiros que depredaram patrimônio público. A informação foi desmentida, dando conta de que infiltrados invadiram a reivindicação para criar o clima de caos e justificar a ação do Exército Brasileiro, autorizada pelo presidente Michel Temer. Como o senhor avalia esses posicionamentos? Alguma vez a CTB custeou a ação de vandalismo contra a República?

FP – Temos hoje no Brasil seis ou sete centrais sindicais. Não acredito que nenhum sindicalista ou qualquer pessoa ligada ao movimento sindical estaria disposto a pagar para que fizesse isso. A mídia tenta criminalizar os movimentos sociais.

RD – O ex-presidente Lula, na sua visão, é inocente das acusações que lhe imputam?

FP – Acredito que até agora sim. Não provaram nada contra ele.

RD – Mas não teria sido pelo menos negligente ao ignorar essa relação escandalosa entre grandes empresas, estatais, empreiteiras e partidos políticos?

FP – Isso daí já vinha de muito tempo. O próprio dono da Odebrecht disse.

RD – O senhor realmente acredita que ele não sabia de nada?

FP – Eu acredito que, dentro desse contexto, ele sabia sim, mas do ponto de vista do todo. Como ocorria o processo de caixa 2, por exemplo, entendeu? Acredito que ele não era a pessoa para resolver esse problema. Porque é algo do sistema, dentro de todos os partidos.



RD – Então a realidade no Brasil, de certa forma, é aceita a corrupção em troca de governabilidade?

FP – Não digo nesses termos. Mas o sistema está montado para isso. Por mais boa vontade que você tenha, com um Congresso Nacional tão viciado é impossível fazer qualquer coisa. Para você avançar com reformas necessárias à população, por exemplo, é preciso fazer concessões que não estão dentro dos padrões da ética. É que nem nesse processo de reforma Trabalhista e da Previdência. O deputado “X” fala: “Eu só voto no projeto se receber um cargo lá na Suframa”. Isso é corrupção, porque o parlamentar está recebendo aquilo que não lhe pertence. Está sendo comprado com cargos. Não é um voto por convicção. É preciso mudar com uma Reforma Política séria e o perfil dos integrantes do Congresso Nacional.

RD – O que o senhor diria às pessoas que querem ofendê-lo e até mesmo agredi-lo por conta de suas ideologias?

FP – “Mãe, guarde esses revólveres pra mim. Com eles nunca mais vou atirar”, readaptação de Zé Ramalho à maravilhosa letra de Bob Dylan [risos]. Isso faz parte, é normal. Faz parte da crise de humanismo em que vive a sociedade. Sou tolerante. Querem me agredir porque uso uma camiseta, já pensou? Pode ser do Che Guevara, mas eu uso também do John Lennon. É o meu jeito de ser. As pessoas até me chamam de maconheiro...

RD – Mas é maconheiro?

FP – Não, não... Fumei maconha na minha juventude umas duas vezes. Na segunda vez eu passei mal e até hoje nunca mais. Mas tenho amigos que fumam e são inclusive dependentes de cocaína. Mas eu nunca quis. Já bebi muita cachaça, mas não bebo mais. Tô parado aí há quase seis meses e não pretendo voltar a beber. Mas isso só dá problema porque as pessoas querem viver a vida dos outros. O ‘cabra’ não sabe nem da vida dele, tá entendendo? Creio que as pessoas devam viver suas vidas.

RD – Pensei que fosse da maconha o apelido de Pantera, do famoso “tapa na Pantera”...

FP – [gargalhada] Não, não... Meu apelido de Pantera foi uma coisa interessante. Tenho um amigo meu que em 76 ou 77 lia muito os Panteras Negras. Eu era muito magricelo e vermelhinho. E lá em casa não tinha televisão, então  todo dia eu ia assistir a Pantera Cor de Rosa às 17h na casa de alguém. Naquele tempo era preto e banco. Esse cara, esse meu amigo, lia uns livros que eram inclusive proibidos na época do regime militar. Os Livros dos Panteras Negras. Então ele me deu uns dois ou três e eu li. Então a rapaziada passou a me chamar de Pantera. Amei a história, aquela rebeldia contra o racismo, enfim. Veio a calhar.

RD – Obrigado, professor.

FP – Que nada, foi um prazer.



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Autor / Fonte: Rondoniadinamica

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