O Efeito Nazareno e os bairristas de Rondônia

O Efeito Nazareno e os bairristas de Rondônia

O “vagabundo” Nazareno vai a Calama ajudar a preparar alunos para o ENEM. E de graça!

Porto Velho, RO – O bairrismo é uma desgraça, pois, travestido da pretensa nobre emoção patriótica e imbuído de um ranço descomunal partilhado por um povo caolho e que há muito perdeu a Visão Periférica, acomoda.

E acomoda muito!

Aqui nós temos o que irei denominar, para fins pedagógicos, como Efeito Nazareno (sociólogos, atenham-se aos créditos em menções futuras nos livros didáticos, por favor!).

O Efeito Nazareno é, simplesmente, a reação em cadeia provocada a cada texto propositalmente pejorativo dedicado a Rondônia pelo meu amigo queridíssimo Professor Nazareno, que há pouco curtia férias em Fernando de Noronha colocando defeitos a torto e a direito no paradisíaco arquipélago de Pernambuco.

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Acredite, se morasse em Oslo, capital da Noruega, seria a mesmíssima coisa: anarquismo deliberado a fim de sacudir o coreto, levantar poeira e evocar insurreição.

As publicações de Nazareno, que acumula, além da cátedra, o suplício diário do jornalismo, expuseram o fervor das paixões passageiras de muitos rondonienses e rondonianos, geralmente compelidos a repostas agressivas, vingativas.

Sem saber, o homem acostumado a ensinar técnicas de redação a jovens alimentava o maior monstro que sempre combateu: o patriotismo, definido pelo próprio Naza como o pior sentimento experimentado pela raça humana. Olha só que ironia!

Quanto mais criticava, mais apanhava. Sentia-se bem, mesmo assim, porque de acordo com suas convicções impulsionava a criatividade guardada a sete chaves no âmago de cada ofendido.

A partir de sua retórica, surgiam inúmeros manifestos recheados de um romantismo inigualável onde as contestações traziam, quase sempre, trechos do Hino de Rondônia e menções às qualidades receptivas e frutíferas desta terra situada à Selva Amazônica. Inconscientemente produzia-se, então, literatura.

Incrível, não!?


O profesor tem relação de amor e carinho pelo João Bento da Costa

Além disso, claro, sugestões pouco amigáveis exigindo ao docente que faça o favor de matar sua fome em outro lugar (alguns ofereciam passagem de ida); os mais exaltados, por outro lado, municiavam-se de ofensivas mais graves voltadas à família do articulista e a lavra de palavras de calão também não cabe no gibi.

Ao abordar a fedentina urbana, como gosta de denominar, gargalos sociais, lixo nas ruas, inanição política por parte dos cidadãos e apontar defeitos óbvios, ainda que de maneira exagerada num tom satírico levado a instâncias despudoradas jamais vistas por aqui, Nazareno tornou-se uma necessidade.

Arvoram-se os bairristas à seara textual para que possam se escusar de compromissos físicos, palpáveis, reais e producentes.

Na concepção deles, o professor que descamba ao Baixo Madeira todos os anos para lecionar a crianças e adolescentes gratuitamente auxiliando-os, principalmente, em suas performances no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), é um pária: a verdadeira chaga a ser combatida.

Políticos de rapina, criminosos do colarinho branco, bandidos de toda espécie e afins estão absolvidos neste cenário onde atroz mesmo é exprobrar as máculas que nos perpassam.

Afinal, só existem problemas se há quem fale sobre eles. O silêncio remete à perfeição idealizada pelo sonho utópico da coletividade.

Por isso, deveria ser crime Nazareno tirar férias. Por isso, deveria ser ilegal sua ausência nas páginas dos jornais. Quando essas situações ocorrem o remanso é doentio: ninguém mais ama as Três Caixas D’Água, ninguém quer falar sobre a Maria Fumaça, os amantes de Jorge Teixeira evaporam, a fixação por Rondon dá uma pausa e até os versos criados por Joaquim Araújo Lima se perdem por aí.

Professor, peço, regresse logo à escrita e posicione-se, por favor, no seu devido papel de para-raios da efervescência crítica de nossos concidadãos!

Autor / Fonte: Vinicius Canova

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