Fim

Fim

Porto Velho, RO – Uma correria ensurdecedora começa de repente na Clínica Cirúrgica I, do Hospital de Base, logo após o almoço. Duas mulheres desesperadas batem perna pra lá e pra cá tentando aplacar a tristeza em forma de fúria.

A sensação do espectador é a certeza de que aquela dor poderia fazê-las atirar suas próprias cabeças contra as paredes só para cessar a horrível sensação de desolação. As duas perderam filho e marido, um jovem de apenas 20 anos, que poderia até ser chamado de menino sem exagero algum. Um ataque cardíaco o levou antes que pudessem tentar reanimá-lo pela segunda vez.

A cronologia segue a mesmice de um enredo clichê. Acidente de moto; problemas no baço; cirurgia bem sucedida; complicações inesperadas; parada cardíaca, e finalmente a morte. 

Mesmo as enfermeiras mais experientes não resistem à cena e muito menos às consequências que a seguem: choram. Contidas, mas choram. Silenciosas, mas choram. São muito mais humanas do que poderiam supor pacientes aventureiros que as veem como rochas sólidas perfuradoras de veias. Não são. Às vezes são mais moles que as artérias mais fáceis de transpor. 

Curiosamente, o cenário externo é de luto. Dia nublado, chuvoso; alguns trovões distantes não conseguem sufocar os gritos de desespero que agora alcançam outros setores da instituição de saúde. Enfim, uma data fúnebre, que irá para a devida Certidão de Óbito. 

Seguranças são chamados para tentar conter manifestações mais àsperas, caso ocorram, mas a empatia é tanta que não têm coragem de fazer mais do que se aproximar, também com olhos marejados e complacentes, seguindo mãe e viúva num cortejo de pesares no curto corredor que agora parece tão grande, imenso, talvez interminável. Interminável como a dor que não  acaba. 

Não acaba?

Fim! 

*Meus pêsames à família do interno da Enfermaria 70, CCI

Autor / Fonte: Vinicius Canova

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